Travessa Félix Rocque, na Cidade Velha, é o exemplo de como deveria ser o urbanismo das ruas do Centro Histórico de Belém
Pequeno trecho restaurado por uma empresa privada mostra que é possível recuperar o charme urbano e valorizar o patrimônio histórico de Belém com vontade política e gestão qualificada

O Centro Histórico de Belém, com suas ruas centenárias e casarões coloniais, ainda guarda traços do esplendor urbano da época do Ciclo da Borracha. No entanto, o que se vê hoje em boa parte da Cidade Velha e do bairro da Campina é um cenário de abandono, sujeira, buracos, esgoto a céu aberto e calçadas malcuidadas — marcas da omissão do poder público. Diante disso, iniciativas pontuais mostram que é possível recuperar a dignidade urbana desses espaços. Um exemplo notável é a pequena, porém belíssima, Travessa Félix Rocque.
Localizada na Cidade Velha, essa via curta é hoje símbolo de como o urbanismo do centro antigo de Belém poderia ser repensado. A rua foi completamente revitalizada por uma empresa de praticagem que se instalou em um casarão histórico próximo. O resultado impressiona: paralelepípedos bem colocados, meio-fio alinhado, calçadas estreitas, porém padronizadas, ausência de esgoto aparente, postes retirados e fiação aterrada. O conjunto remete ao cenário urbano de cidades europeias, como Lisboa.
A Travessa Félix Rocque virou ponto turístico espontâneo. Moradores e visitantes registram o local nas redes sociais e até a cantora Joelma escolheu a via como cenário para a gravação de um videoclipe. O contraste com as demais ruas da Cidade Velha é gritante: buracos no asfalto, calçadas quebradas e despadronizadas, pichações, fiação aérea pesada, além de valas de esgoto abertas — inclusive em frente ao imponente Palacete Pinho, um dos patrimônios históricos mais valiosos da capital.
O caso da Félix Rocque evidencia que falta gestão, não conhecimento. Muitos gestores municipais viajam para cidades-modelo em urbanismo, como Curitiba, Lisboa ou Paris, mas não aplicam os aprendizados em Belém. A Cidade Velha poderia ser uma área diferente, com moradia qualificada, atrativos turísticos, comércio criativo e respeito à memória urbana.
Iniciativas isoladas como a da empresa privada que recuperou a via mostram que, com planejamento, investimento e vontade política, é possível transformar a paisagem urbana, atrair visitantes e resgatar o orgulho dos moradores. O poder público tem, diante de si, um exemplo concreto de como fazer diferente — e melhor.