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Português falado no Brasil pode ser substituído por nova língua

Com vocabulário, sotaques e estruturas próprias, o português do Brasil se distancia cada vez mais da norma europeia e já é visto por estudiosos como uma língua independente, moldada por influências indígenas, africanas e regionais.

As diferenças entre o português falado no Brasil e o de Portugal vão muito além de palavras isoladas como “geladeira” e “frigorífico” ou “menina” e “rapariga”. Para um número crescente de linguistas, essas variações já não se limitam a sotaques ou regionalismos: elas apontam para o surgimento de uma nova língua — o brasileiro.

A proposta, que ainda enfrenta resistência entre acadêmicos mais conservadores, é defendida por pesquisadores como o linguista português Fernando Venâncio. Autor do livro Assim Nasceu uma Língua, Venâncio afirma que o idioma falado no Brasil desenvolveu características tão autônomas que já se diferencia do português europeu em estrutura, vocabulário e identidade.

A origem do português, lembra o linguista, remonta à Galícia, região atualmente pertencente à Espanha. Com o passar dos séculos, e especialmente após a independência do Brasil em 1822, o idioma passou por um processo de transformação impulsionado por múltiplas influências culturais.

O contato com mais de mil línguas indígenas e com diversas línguas africanas, especialmente as da família banto, resultou em palavras e expressões únicas, como cafuné, banguela, fofoca, mandioca, tatu e Tietê, que não têm equivalente no português europeu.

Além disso, o português falado no Brasil é marcado por uma enorme diversidade regional: o “r” forte do Sul, o “s” chiado do Rio de Janeiro, o sotaque cantado do Nordeste e o vocabulário específico da Amazônia compõem um cenário linguístico plural, que reforça a ideia de que o Brasil já possui uma língua própria.

Apesar de iniciativas como o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que tentou unificar normas entre os países lusófonos, muitos especialistas brasileiros criticam a dependência da norma europeia. Para eles, o idioma falado por mais de 200 milhões de brasileiros já seguiu seu próprio caminho — e precisa ser reconhecido como tal.

Hoje, o português é falado oficialmente em nove países, incluindo Angola, Moçambique, Timor-Leste e Cabo Verde. O Brasil concentra mais de 80% dos falantes. Mesmo assim, continua subordinado, em termos normativos, à matriz portuguesa — algo que os defensores do “brasileiro” querem mudar.

Embora a oficialização de uma nova língua ainda não esteja no horizonte político, o debate acadêmico sobre o tema cresce. Para muitos estudiosos, a língua brasileira já nasceu — falta apenas o mundo reconhecer.

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