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Pará tem mais de 1.800 sítios arqueológicos e enfrenta avanço de áreas desmatadas na Amazônia

Estado ocupa o sexto lugar no ranking nacional de registros arqueológicos, mas sofre com o crescimento da ocupação humana e a pressão sobre biomas protegidos

O Pará desponta como um dos estados com maior número de sítios arqueológicos no Brasil, com um total de 1.813 registros reconhecidos oficialmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os dados foram divulgados em estudo recente do projeto MapBiomas, com base em imagens de satélite de 2023, e revelam um cenário de contrastes: enquanto cresce o reconhecimento da importância histórica e cultural desses vestígios, avança também a ocupação humana e a destruição da vegetação nativa no entorno dessas áreas, sobretudo na Amazônia.

Com forte predominância nos biomas Amazônia e Caatinga, o Brasil abriga atualmente 27.974 sítios arqueológicos. A Amazônia lidera entre os biomas, concentrando 10.197 desses pontos — mais de um terço do total nacional. O Pará, por sua vez, ocupa o sexto lugar entre os estados brasileiros com maior número de sítios registrados, atrás apenas da Bahia, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Piauí. O dado reforça a relevância histórica do território paraense como espaço de antigas ocupações humanas e intensa atividade cultural ao longo dos séculos.

No entanto, o cenário de conservação é preocupante. Em 1985, cerca de 53,5% dos sítios arqueológicos brasileiros estavam em áreas de vegetação nativa, enquanto 41,7% encontravam-se em áreas ocupadas por atividades humanas. Quase quatro décadas depois, essa realidade se inverteu: hoje, 49,6% estão em áreas desmatadas ou com uso antrópico, e apenas 41,5% permanecem em regiões com cobertura vegetal original. No caso da Amazônia, o crescimento da ocupação humana em torno dos sítios arqueológicos foi ainda mais intenso — saltando de 19% em 1985 para 47,5% em 2023.

A professora e cientista Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e colaboradora do BrazilLAB/Princeton, destaca que os registros arqueológicos na Amazônia comprovam a existência de grandes aglomerados humanos no passado. “A Amazônia era altamente populada, com grandes cidades e sistemas complexos. Quanto mais informação se tem do passado, mais conseguimos identificar a diversidade biocultural desses lugares”, afirma Hirota.

O levantamento também apontou que a agropecuária passou a ocupar mais espaço nos arredores dos sítios arqueológicos do que as florestas. Em 1985, a floresta representava 43,2% da cobertura ao redor desses locais, enquanto a agropecuária ocupava 38%. Já em 2023, essa proporção foi invertida: o agronegócio saltou para 43,1% e a floresta caiu para 32,5%. O crescimento da superfície de água, por sua vez, teve uma leve alta, passando de 4,9% para 8,9% no mesmo intervalo.

No caso do Pará, o avanço do desmatamento e das pressões antrópicas sobre os sítios arqueológicos é evidente. O estado aparece entre os que registraram alertas de desmatamento entre 2019 e 2024. Foram nove casos identificados pelo sistema MapBiomas Alerta, o que coloca o Pará entre os cinco estados com maior número de ocorrências, ao lado de Tocantins, Bahia, Paraná e Rio Grande do Norte.

O cruzamento entre a localização dos sítios e os alertas de degradação ambiental reforça a urgência de políticas públicas eficazes voltadas à proteção desse patrimônio. Segundo especialistas, medidas de preservação e controle do uso da terra devem ser fortalecidas, com foco tanto na conservação ambiental quanto na valorização do acervo histórico.

A maior parte dos sítios arqueológicos no Brasil não conta com proteção legal ou reconhecimento formal como patrimônio da humanidade. Essa lacuna deixa milhares de registros vulneráveis a ações de desmatamento, expansão urbana, queimadas e ocupações desordenadas. Além disso, muitos desses locais permanecem inexplorados por equipes técnicas e acadêmicas, o que dificulta a identificação de seu valor histórico e científico.

No Pará, onde o patrimônio arqueológico está inserido em um dos biomas mais ricos e sensíveis do planeta, o desafio é ainda maior. A relação entre preservação ambiental, memória histórica e desenvolvimento regional precisa ser equilibrada para evitar a perda de vestígios que contam a história de antigas civilizações amazônicas, como as que habitaram a região muito antes da chegada dos colonizadores europeus.

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