Curupira: entidades reagem à fala do deputado Nikolas Ferreira

Por Eduardo Cunha
Curupira, influenciador digital, figura folclórica do Norte do país, ambientalista e entidade da floresta usou suas redes sociais nesta sexta-feira (4) para repudiar as declarações feitas pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL).
Em publicação no X, antigo Twitter, o parlamentar ironizou a escolha do Curupira como mascote da COP30, feita pelo governo do Pará. Segundo Nikolas, foi “’Excelente escolha pra representar o Brasil e nossas florestas: anda pra trás e pega fogo’, em alusão ao que insinuou de retrocesso político e às queimadas na região.
A fala gerou revolta entre internautas e foi classificada como capacitista. O próprio Curupira se manifestou com firmeza, rebatendo as críticas. Em nota, afirmou que, apesar de ter nascido com os pés virados para trás, sempre se locomoveu com destreza — e, sobretudo, para a frente — mesmo nos ambientes mais inóspitos da floresta amazônica.
O guardião da floresta ressaltou ainda sua atuação milenar na proteção da Amazônia, combatendo o desmatamento, o tráfico de animais silvestres e a degradação ambiental. Esclareceu que seu cabelo em chamas é simbólico e jamais provocou queimadas, responsabilizando, em vez disso, ações humanas pela destruição do bioma.
Pedindo respeito à sua imagem, o Curupira solicitou que não o incluam nas disputas políticas brasileiras, que denominou de “ selvageria e barbárie”. Por fim, afirmou que tomará as medidas cabíveis para proteger sua honra e convidou o deputado a visitar a Amazônia — conhecer sua cultura, culinária, biodiversidade e, claro, sobretudo seu folclore.
Outras entidades lendárias da floresta também reagiram em apoio ao Curupira. Matinta Pereira expressou indignação com a fala do deputado e, antecipando críticas, preocupada esclareceu que seu vínculo com o tabaco não representa, de forma alguma, apologia ao tabagismo.
O Boto, por sua vez, admitiu responder a algumas ações de investigação paternidade na justiça, mas afirmou que nenhuma delas transitou em julgado e que, como qualquer cidadão, tem direito à presunção de inocência.
Já Yara, a sereia dos rios, também se pronunciou após insinuações de abusos sexuais. Disse que, de fato, leva uma vida afetiva livre, mas consensual, negou qualquer uso de substâncias alcoólicas ou sedativas ( Rohypnol) para seduzir parceiros e afirmou possuir laudos que comprovam sua inocência.
Entidades da floresta seguem preocupadas com os efeitos da fala do deputado sobre o Curupira. Para elas, o deboche desrespeita saberes ancestrais e pode alimentar a ignorância sobre a Amazônia e suas lendas protetoras.
A escolha do Curupira como símbolo da COP30 representa não apenas uma figura do folclore brasileiro, mas também um símbolo de resistência e proteção da floresta. Para especialistas, o discurso debochado pode reforçar estigmas e desinformação sobre a Amazônia, além de desrespeitar saberes ancestrais e figuras representativas da cultura popular