O Pará viveu um contraste emblemático no último fim de semana. Em Belém, no sábado (23), o DJ Alok comandou um espetáculo tecnológico e ambiental em comemoração à contagem regressiva de um ano para a COP 30, conferência climática da ONU que será sediada na capital em 2025. Entretanto, a 1.200 quilômetros dali, Santarém enfrentava uma realidade oposta, com a cidade encoberta por fumaça devido às queimadas na região.
Na segunda-feira (25), o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar (DEM), decretou estado de emergência ambiental. “Estamos passando por uma situação de calamidade pública em relação à qualidade do ar em Santarém, colocando em risco, inclusive, a saúde da nossa população”, afirmou. Dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe) indicam que a cidade enfrentou níveis péssimos de qualidade do ar, com altas concentrações de monóxido de carbono.
Crise ambiental e seca severa
A região Oeste do Pará está enfrentando uma das piores secas das últimas décadas. Além do ar irrespirável, a estiagem dos rios tem causado impactos graves, como a morte de peixes e dificuldades de acesso à água. De acordo com o Inpe, em outubro de 2024, o Pará registrou 7.120 focos de queimadas, liderando o ranking nacional.
A fumaça, que afeta municípios como Santarém, Alter do Chão e Monte Alegre, é um reflexo direto da devastação florestal. Enquanto isso, populações locais sofrem com a invisibilidade de sua crise, que, segundo críticas, contrasta com o discurso de preservação ambiental propagado pelo governo estadual.
Contradições na política ambiental
Embora o governador Helder Barbalho seja visto como um dos protagonistas na articulação da COP 30, sua gestão enfrenta críticas pela falta de ações concretas para combater as queimadas e proteger a biodiversidade. Santarenos como a publicitária Vanessa Campos e a jornalista Mariana Vieira questionam o protagonismo global do Pará enquanto a população local lida com uma crise ambiental e humanitária sem respostas.
“Se a Amazônia ser ‘pop’ e comentada no mundo todo não ajuda a resolver queimadas, proteger nosso território e garantir direitos ambientais, então nada vai”, desabafou Mariana Vieira.
A um ano da COP 30, a situação revela os desafios que o Pará enfrenta para equilibrar discurso e prática na defesa da Amazônia, ao mesmo tempo em que tenta se consolidar como exemplo global de sustentabilidade.