Prefeito de Belém diz não ter vergonha dos problemas da cidade e defende COP30 como símbolo de transformação
Igor Normando reconhece precariedades estruturais da capital paraense, mas afirma que o evento climático é uma oportunidade de mudança real para a região amazônica.

O prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), afirmou nesta quarta-feira (4) que não sente vergonha dos problemas enfrentados pela cidade e criticou a maneira como parte da imprensa tem abordado a preparação da capital para a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), marcada para novembro deste ano. Normando participou de um evento em São Paulo organizado pelo AYA Earth Partners, que reuniu empresários, investidores e representantes de instituições nacionais e internacionais.
Durante sua fala, o prefeito fez um apelo por união e compromisso com a transformação social e ambiental da Amazônia, defendendo que Belém seja vista como um símbolo de um novo modelo de desenvolvimento sustentável. Segundo ele, o debate sobre a realização da COP tem se concentrado de forma superficial em questões como a ausência de hotéis de luxo.
“O que mais se vê em parcelas da imprensa, e até mesmo em pessoas que vivem em Belém, é se vai haver vaga de hotel cinco estrelas para se hospedar. Será que esse é o real motivo do evento? Será que o motivo do evento é turismo? Ou o motivo do evento é cuidar do planeta e das pessoas que vivem nele?”, questionou.
A cidade ainda enfrenta desafios logísticos. Atualmente, Belém tem 36.015 leitos disponíveis, segundo dados do governo federal, 14 mil a menos do que a meta de 50 mil para o evento. A escassez tem provocado uma disparada nos preços das hospedagens. Anfitriões de plataformas como o Airbnb chegaram a oferecer pacotes de 15 diárias por mais de R$ 2 milhões. Segundo o UOL, o Sebrae teria orientado os proprietários a cobrarem até dez vezes mais durante o período da COP.
Diante desse cenário, alguns países europeus já avaliam reduzir o tamanho de suas delegações, alegando que os custos elevados superam os limites legais de orçamento com hospedagem. Analistas também apontam que houve falha do governo em se antecipar ao problema. Um acordo com hotéis ainda está sendo negociado, e os navios de cruzeiro prometidos para ampliar em 6 mil o número de leitos ainda não tiveram contratos formalizados.
Normando defendeu a capacidade da cidade em sediar grandes eventos, lembrando que Belém realiza anualmente o Círio de Nazaré, que atrai cerca de 2 milhões de pessoas. Em 2023, segundo o governo do estado, o evento religioso recebeu aproximadamente 89 mil turistas. A expectativa de público para a COP30 é de 60 mil pessoas.
O prefeito também reconheceu os problemas sociais da capital paraense, como o alto índice de favelização e a precariedade de serviços básicos, como saneamento. Ainda assim, afirmou que esses desafios devem ser vistos como motivos para maior engajamento, não como vergonha.
“Eu não tenho vergonha disso, porque o que eu estou hoje aqui é pedindo e fazendo um apelo”, declarou. “De nada adianta repetir que a Amazônia é um patrimônio mundial ou nacional, ou defender apenas a preservação da floresta e dos rios, se não houver também compromisso concreto com as pessoas que vivem na região.”