O Mercado Ver-O-Peso, em Belém do Pará, conhecido como o maior mercado da região amazônica, é famoso por sua variedade de produtos tradicionais e artesanais. Entre os destaques estão as barracas de ervas, onde vendedores prometem uma ampla gama de efeitos mágicos para seus produtos, desde poções para atrair o amor até perfumes para aumentar o sucesso em concursos públicos.
Durante uma visita ao mercado, a vendedora Claudiana, de 36 anos, apresentou à reportagem um frasco com um líquido alaranjado, chamado “Óleo da Bota”. Segundo ela, o perfume pode ser usado durante relações íntimas para aumentar a paixão do parceiro. “Você coloca uma gotinha na ‘perseguida’ e faz o homem ficar louco”, explicou a vendedora. Ela também afirmou que o óleo é feito à base de plantas naturais com propriedades atrativas, como “agarradinho”, “carrapatinho” e “chora nos meus pés”.
Outros produtos oferecem promessas mais amplas, como perfumes para atrair o público homossexual e um óleo para aumentar o tamanho do pênis. Além desses, também há poções que prometem ajudar a passar em concursos, melhorar a concentração nos estudos e afastar o mau-olhado.
Apesar da tradição e do conhecimento ancestral das ervas no Ver-O-Peso, especialistas alertam para os riscos potenciais desses produtos. A dermatologista Rosana Lazzarini, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, destacou que, por serem produtos artesanais, não há controle sobre a composição e os métodos de fabricação. “A composição pode conter plantas ou produtos de origem animal que podem causar reações cutâneas, como dermatites irritativas, decorrentes das próprias plantas ou de outros componentes, como o álcool ou diluente utilizado”, disse Lazzarini.
Outro risco é a contaminação por bactérias, fungos ou outros agentes infecciosos, que podem causar danos à saúde. Além disso, alguns produtos prometem efeitos terapêuticos, como óleo para diabetes ou para curar “os nervos”, o que preocupa médicos como o hepatologista Giovanni Faria Silva, da Faculdade de Medicina da Unesp. “Sabemos que algumas dessas substâncias têm potenciais riscos de toxicidade hepática, mas outras são desconhecidas, o que representa um risco”, explicou Silva.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta para o uso de produtos artesanais sem certificação e para a propaganda enganosa que promete “curas milagrosas” ou efeitos terapêuticos sem comprovação científica. A agência recomenda cautela com esses produtos e reforça que medicamentos fitoterápicos devem ser registrados e fiscalizados.
Por fim, a prefeitura de Belém, responsável pela fiscalização do mercado, não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre as medidas tomadas para regularizar e inspecionar as barracas do Ver-O-Peso.