Internautas resgatam declaração xenofóbica de ex-prefeito de Manaus contra paraenses
Discussão sobre o nome da castanha reacende disputas entre estados e questões sociais

A recente discussão sobre o nome da castanha-do-Pará, que começou com uma participação do ator manauara Adanilo Costa no programa É de Casa, da TV Globo, acabou gerando uma verdadeira batalha nas redes sociais. Durante o programa, o ator foi corrigido pela apresentadora ao chamar a castanha de “Castanha-da-Amazônia”, sendo lembrado de que o nome correto é, na verdade, castanha-do-Pará.
O episódio, aparentemente simples, desencadeou um debate acirrado, envolvendo internautas, artistas, redes de TV e até páginas oficiais do governo, e reacendeu uma rivalidade histórica entre os estados do Pará e do Amazonas.
A discussão, que ainda está longe de se resolver, trouxe à tona não apenas a questão do nome da castanha, mas também uma antiga tensão entre os dois estados.
Nesse contexto, internautas resgataram um vídeo de 2011 em que o ex-prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, faz comentários preconceituosos sobre uma paraense que vivia em uma ocupação no município de Manaus.
No vídeo, o amazonense pergunta à moradora de qual estado ela é. Ao responder que é do Pará, o ex-prefeito responde de forma xenofóbica e deseja que ela morra.
Emprego e Zona Franca
Longe de ter surgido apenas com a confusão sobre o nome da castanha ou com a disputa entre as ex-BBBs Alane Dias e a amazonense Isabelle Nogueira, o conflito entre os estados tem raízes históricas, políticas, econômicas e sociais. A Amazônia brasileira, com suas dimensões continentais, apresenta um cenário onde, em algumas regiões do oeste do Pará, é mais fácil para os moradores recorrerem ao estado vizinho, o Amazonas, do que à própria capital paraense. Esse fenômeno tem implicações diretas nas relações entre os dois estados.
Por outro lado, a Zona Franca de Manaus, criada em 1957 por Juscelino Kubitschek para promover a ocupação da região e reduzir as desigualdades regionais, acabou por se tornar um fator de atração para muitos paraenses em busca de empregos. A instalação da Zona Franca gerou um intenso fluxo de imigrantes paraenses em busca de melhores condições de vida e trabalho, o que, em um contexto de crise econômica e escassez de oportunidades, acabou criando um cenário tenso na capital amazonense.
Problema social
Como ocorre em outras partes do mundo, o êxodo de pessoas de regiões menos industrializadas em busca de emprego nas grandes cidades tem gerado problemas sociais, exacerbando tensões entre os moradores locais e os imigrantes. Em Manaus, é comum ver paraenses sendo acusados de “roubar empregos” e sendo alvo de ataques xenofóbicos, como é frequentemente o caso de trabalhadores vindos de outras regiões do Brasil, como os nordestinos em São Paulo, ou os imigrantes africanos e muçulmanos na Europa.
Essa situação reflete um problema social complexo e de difícil solução. A falta de empregos, somada à chegada de novos imigrantes, especialmente em tempos de crise econômica, gera uma competição por recursos escassos, o que alimenta ressentimentos e discursos de ódio. No caso específico do Amazonas, os paraenses são, muitas vezes, alvo de estigmatizações, sendo chamados de “ladrões” e “vagabundos”, rótulos que pioram ainda mais a convivência entre os dois estados.
Xenofobia
A Lei 9.459/97, de 13 de maio de 1997, define os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O artigo 1º dessa lei estabelece que “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceitos de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A pena prevista para os infratores é de reclusão de um a três anos, além de multa.
Veja o vídeo: