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Indígena Warao morre em hospital de Belém e família denuncia negligência e discriminação

Parentes afirmam que médico se recusou a atender paciente; Secretaria de Saúde nega acusação e diz que ele recebeu cuidados especializados

A morte do indígena venezuelano Basílio Cardona, do povo Warao, no Hospital Regional Dr. Abelardo Santos, em Icoaraci, gerou denúncias de negligência e discriminação por parte da família. Segundo o relato de Avilio Cardona Alvarez, primo da vítima, Basílio morreu no dia 16 de novembro de 2024 após ter sido supostamente recusado por um médico da unidade.

“O doutor não queria atender o Basílio porque ele era indígena. Falou que ele tinha tuberculose, mas não nos explicou direito. Ele faleceu às 8 horas da manhã, mas só fomos informados pela assistente social às 22h”, relatou Avilio.

A Secretaria de Saúde do Pará, por sua vez, afirmou que Basílio chegou ao hospital em estado gravíssimo para tratar tuberculose e recebeu atendimento especializado, mas não resistiu. O atestado de óbito aponta como causas da morte “tuberculose das vias respiratórias sem confirmação bacteriológica ou histológica” e “pneumonia causada por microorganismo não especificado”.

Divergência nos dados sobre mortes e tuberculose

A denúncia reacende o alerta sobre as dificuldades enfrentadas pelos Warao no acesso à saúde. Segundo Avilio, ao menos oito indígenas morreram por tuberculose e pneumonia apenas em 2024. Um servidor da prefeitura, que não quis se identificar, disse que entre maio de 2023 e novembro de 2024, 13 indígenas Warao morreram em Belém por doenças respiratórias.

A Secretaria Municipal de Saúde de Belém, no entanto, apresenta números diferentes: segundo o órgão, apenas um caso de tuberculose foi registrado entre os Warao em 2023 e três em 2024, com apenas uma morte confirmada. A pasta não explicou as divergências entre os dados.

Falta de intérpretes e dificuldades no atendimento

A barreira linguística também é um dos desafios no atendimento médico à população Warao. Sem intérpretes, muitos indígenas têm dificuldades para compreender diagnósticos e tratamentos, o que compromete a efetividade do atendimento.

Além disso, as condições precárias nos abrigos e ocupações urbanas onde vivem muitos refugiados indígenas agravam a vulnerabilidade à tuberculose e outras doenças respiratórias. Superlotação, falta de ventilação e umidade são fatores que contribuem para a disseminação dessas enfermidades.

MPF cobra providências sobre assistência aos Warao

O Ministério Público Federal (MPF) tem cobrado medidas para garantir a assistência adequada aos indígenas Warao em Belém. Em julho de 2024, o órgão questionou a prefeitura sobre as condições de acolhimento dessa população e reiterou a necessidade de diálogos mais transparentes com a comunidade.

A Funpapa, fundação municipal responsável pela assistência social, afirmou que trabalha para garantir sepultamentos e funerais dignos para os indígenas e que, em 2024, realizou 11 funerais de pessoas da etnia.

Os Warao começaram a buscar refúgio no Brasil a partir de 2016, fugindo da crise humanitária na Venezuela. Hoje, cerca de 3 mil vivem no Pará, muitos deles enfrentando dificuldades para acessar direitos básicos, como saúde, moradia e trabalho.

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