
Um relatório divulgado nesta terça-feira (23) pela ONG britânica Earthsight acusa grifes internacionais de utilizarem couro proveniente de áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia e de terras indígenas invadidas. A investigação, feita em parceria com a Repórter Brasil, analisou registros judiciais, imagens de satélite, dados de exportação e se infiltrou em feiras do setor para rastrear a origem do couro usado por marcas como Chanel, Balenciaga, Gucci e Coach.
No centro da cadeia produtiva está o frigorífico Frigol, que opera no estado do Pará. Segundo o estudo, o frigorífico adquiriu gado de propriedades localizadas em áreas embargadas por desmatamento e dentro da Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu. A Frigol, segundo a Earthsight, repassa o couro desses animais à empresa Durlicouros, que é a maior exportadora de couro do Pará para a Europa — com 90% de toda a produção enviada à Itália entre 2020 e 2023.
Na Itália, os couros são processados por empresas como Conceria Cristina e Faeda, que fornecem para marcas de luxo dos setores de moda, automóveis e design de interiores. A Conceria Cristina, segundo a investigação, é fornecedora da grife americana Coach, voltada ao público jovem e com bolsas vendidas por até R$ 3.800.
Apesar de sanções anteriores, a Frigol teria continuado comprando gado de fazendas embargadas e ligadas à criação ilegal dentro da TI Apyterewa. O Ministério Público Federal processa 33 fazendeiros e duas empresas por envolvimento na criação de mais de 47 mil cabeças de gado na terra indígena. Ao menos 14 desses produtores venderam diretamente para a Frigol, segundo os dados.
O relatório destaca que consumidores de luxo acreditam que o alto preço de um produto garante sua origem ética, o que, segundo a Earthsight, não é verdade. “Essa confiança é equivocada”, afirma Rafael Pieroni, líder da equipe na América Latina.
O que dizem as empresas:
A Frigol afirmou que todas as suas compras estão em conformidade com o protocolo Boi na Linha, desenvolvido pelo Imaflora e MPF. Disse ainda que monitora fornecedores diretos e parte dos indiretos, e que é signatária do TAC da Carne desde 2009, obtendo 100% de conformidade nos últimos três ciclos de auditorias.
A Durlicouros afirmou ter compromisso com a rastreabilidade, mas não comentou casos específicos. Chanel, Balenciaga e Gucci negaram o uso de couro brasileiro. A Chanel também disse que encerrou a parceria com a Faeda. Coach e Conceria Cristina não responderam.