OPINIÃO

Deputados do Rio querem indenização por cidade ter deixado de ser capital do Brasil

Por Rafael Rosset

O Brasil, através do Fundo Constitucional do Distrito Federal, entrega todo ano cerca de R$ 14 BILHÕES ao governo distrital (ou seja, cada brasileiro foi tungado em R$ 53,00 pra bancar o maior índice de piscinas por residência do país), valor que é maior que o orçamento líquido de 14 estados. Resultado disso é que a renda per capita de Brasília é o dobro da Suécia, e o investimento público por habitante é o triplo de São Paulo, mesmo Brasília não produzindo um parafuso sequer, e mesmo que nos últimos 15 anos a UnB só tenha registrado 62 patentes (mais ou menos o número que a USP registra EM UM ANO, e que pela média internacional já é baixo – a IBM sozinha depositou quase 7000 patentes em 2013).

É óbvio que essa riqueza toda precisa ser repartida, e os nossos irmãos cariocas já estão de olho na parte deles. Mas antes, um pouco de história. Em 2007 a cidade sediou os jogos Pan-americanos, tendo recebido injeção de R$ 3,7 bilhões, orçamento apenas 444% acima do originalmente previsto, sendo R$ 2,5 bilhões vindos da União e do governo estadual (cada medalha de ouro vencida pelo Brasil na competição custou apenas R$ 711 mil). Para os jogos olímpicos de 2016, foram astronômicos R$ 41 bilhões, sendo que a cidade dispendeu apenas 10% desse valor, com quase 1/3 vindo da União (vulgo eu e você). A Copa do Mundo de 2014, cuja final foi na cidade maravilhosa, custou R$ 28 bilhões. Só a reforma do Maracanã custou R$ 1.050 bi, o que o tornou o segundo estádio mais caro do país, atrás apenas do Mané Garrincha, estádio da riquíssima e industriosa Brasília, palco de clássicos inesquecíveis como Gama x Samambaia.

E assim finalmente chegamos à história de hoje. O deputado federal Daniel Silveira, do PSL/RJ, apresentou proposta para que o Brasil tenha duas capitais. O status seria dividido entre Brasília e Rio de Janeiro, “para por fim na decadência econômica e na criminalidade do estado”. Há muito, na verdade, que políticos cariocas defendem que o Brasil deve uma indenização ao Rio de Janeiro por lhe ter tirado o “direito” de ser a sede oficial da corrupção institucionalizada no Brasil. Em 2010, numa palestra a estudantes da PUC, o então governador e atual presidiário Sérgio Cabral chorou ao lamentar a perda de R$ 7 bi em royalties do pré-sal, comparando o fato à perda da condição de capital federal da cidade, em abril de 1960. “Linchamento”, clamou, enquanto pensava na joia que daria naquela noite à mulher, Adriana Anselmo, que já tinha mais de R$ 2 milhões em gemas. Mesmo com esses os novos critérios de divisão do pré-sal, que levaram o sensível Cabral às lágrimas, o Rio de Janeiro ainda recebe, todo ano, cerca de R$ 10 bilhões em royalties de petróleo, mais de dez vezes mais que o segundo colocado, São Paulo.

É dinheiro que brota do chão, literalmente. Mas ainda é pouco, muito pouco.

Clarissa Garotinho apresentou Proposta de Emenda à Constituição para que a cidade do Rio de Janeiro divida o Fundo Constitucional com Brasília, como uma forma de indenização pela perda da condição da capital. Seriam nada menos que R$ 70 BILHÕES em 10 anos. “Existe um entendimento na Câmara de que o Rio de Janeiro teve uma perda irreparável com a saída da capital”, diz Clarissa. “Há muitas sugestões para resolver isso. Uma delas é a do Daniel Silveira, que trata da mudança administrativa para termos duas capitais. Eu optei por uma indenização, porque é muito mais prático de realizar”.

Verdade, muito mais prático entregar setenta fucking bilhões de reais pro estado em que 5 ex-governadores foram ou estão presos (basicamente, todos os eleitos desde 1998), e pra cidade que tem 1/3 de seu território controlado pelo tráfico, o outro 1/3 controlado por milícia, e o restante controlado por uma classe política tão bandida, mas tão bandida, que faz a corrupção no resto do país parecer amadora.

Cada brasileiro já nasce com tanta “dívida histórica”, que o Serasa vai começar a emitir certidões de nascimento.

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