Com apoio de ONGs internacionais, deputado de São Paulo apresenta projeto de lei para impedir exploração de petróleo no Norte do Brasil
Projeto de lei de Ivan Valente visa barrar atividades petrolíferas na margem equatorial, entre Pará e Amapá; proposta reacende debate sobre preconceito e desigualdade regional

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) apresentou na última quarta-feira (16) um projeto de lei que propõe a proibição total da exploração de petróleo e gás natural na Amazônia brasileira. A proposta inclui a interrupção de projetos em andamento, a revogação de autorizações já concedidas e a recuperação ambiental das áreas afetadas por atividades de exploração. O projeto surge no mesmo momento em que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) confirmou a inclusão de blocos localizados na margem equatorial, entre o Pará e o Amapá, no próximo leilão de áreas para exploração e produção no Brasil.
A iniciativa do parlamentar paulista conta com o apoio de organizações não governamentais nacionais e internacionais, como Greenpeace, WWF-Brasil, Observatório do Clima, Instituto Arayara, Painel Mar e Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos). Os defensores do projeto alegam riscos ambientais e defendem a Amazônia como território de preservação absoluta, principalmente diante da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para 2025 em Belém.
No entanto, a proposta gerou reações, especialmente no Norte do Brasil. A região da margem equatorial, que se estende entre os estados do Pará e do Amapá, é considerada estratégica para o futuro energético do país. A exploração nessa faixa poderia impulsionar a geração de empregos, o crescimento da infraestrutura e o desenvolvimento socioeconômico da região, historicamente negligenciada pelos investimentos federais.
“Preconceito histórico e estrutural contra o Norte”
A movimentação política em torno do projeto reacendeu um debate nacional sobre o preconceito contra a região Norte e o desequilíbrio federativo do Brasil. O jornalista paraense Ney Messias, em vídeo amplamente repercutido nas redes sociais, classificou as críticas à escolha de Belém como sede da COP 30 como manifestações de xenofobia e preconceito estrutural.
“Cansei de ficar calado vendo um monte de gente rasa destilando preconceito contra Belém e contra o Pará em função da realização da COP30 aqui”, afirmou. Para o jornalista, os ataques partem, em sua maioria, da mídia do Sudeste e de setores políticos que desconhecem a realidade e a importância econômica da região amazônica.
Messias destacou que o Pará é o terceiro maior exportador do Brasil e o segundo maior produtor de energia elétrica do país, contribuindo significativamente com a balança comercial nacional. Apesar disso, o Estado enfrenta sérios problemas de infraestrutura, saneamento e orçamento público. “Como pode uma região tão rica em biodiversidade e recursos naturais ainda viver em condições tão desafiadoras?”, questionou.
Desequilíbrio na distribuição de recursos
Outro ponto ressaltado por Ney Messias foi a injustiça na distribuição fiscal do país. Segundo ele, a estrutura do pacto federativo penaliza o Pará e demais estados da região Norte: “De cada R$ 10 arrecadados em impostos federais, apenas R$ 3 retornam aos estados e municípios. O Pará, que gera bilhões em exportações, não recebe de volta nem uma fração justa do que contribui”.
O jornalista também comentou sobre a tarifa de energia elétrica no Estado: “Nós, que somos o segundo maior produtor de energia do Brasil, pagamos uma das tarifas mais caras do país, enquanto o Sudeste recebe o fruto do nosso trabalho e energia mais barata.”
Debate precisa incluir a voz da região
O projeto apresentado por Ivan Valente e seus apoiadores amplia um debate necessário sobre os rumos da política energética e ambiental do Brasil. No entanto, especialistas apontam que qualquer proposta que impacte diretamente o Norte do país precisa incluir a participação efetiva da população da região e considerar as desigualdades históricas que marcam a relação entre o Norte e o restante do país.