A empresa estatal chinesa China Nonferrous Trade (CNT) comprou por R$ 2 bilhões a totalidade das ações da mineradora Taboca, responsável pela exploração da reserva de urânio em Pitinga, no Amazonas. A transação, anunciada na última terça-feira (26), envolve uma das maiores reservas de minerais estratégicos do Brasil, incluindo urânio, nióbio, tântalo e estanho.
Contexto e detalhes da negociação
A Taboca, que opera na região desde 1969, confirmou a transferência de suas ações à CNT, subsidiária do governo chinês. Localizada em Presidente Figueiredo, próximo à hidrelétrica de Balbina, a reserva de Pitinga é considerada uma das mais promissoras do país, especialmente pela diversidade e riqueza de minerais com aplicações em alta tecnologia, como turbinas, foguetes e baterias.
O acordo foi firmado pela Minsur S.A., controladora peruana da Taboca, e descrito como “estratégico” pela mineradora. Contudo, a venda levantou preocupações no cenário político brasileiro.
Críticas e impactos estratégicos
O senador Plínio Valério (PSDB-AM) manifestou-se contra a venda, destacando que, enquanto brasileiros enfrentam restrições para explorar recursos naturais na Amazônia, empresas estrangeiras têm liberdade para fazê-lo. O parlamentar alertou que a posse chinesa de recursos como o urânio pode fortalecer a indústria bélica e nuclear da China.
Além disso, a reserva de Pitinga possui grande quantidade de nióbio, um mineral estratégico para o setor aeroespacial, e tório, que pode ser usado como alternativa ao urânio em reatores nucleares.
Relações Brasil-China
A compra ocorre em um momento de estreitamento das relações comerciais entre Brasil e China. Na semana anterior ao anúncio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês, Xi Jinping, assinaram 37 acordos bilaterais, incluindo áreas como mineração, tecnologia e infraestrutura.
Apesar do fortalecimento dos laços econômicos, o Brasil não aderiu integralmente à Nova Rota da Seda, programa chinês de investimentos globais. Analistas indicam que o governo brasileiro busca manter uma postura diplomática equilibrada, considerando a complexidade do cenário geopolítico internacional.
Debates sobre soberania
A venda da reserva de Pitinga reacendeu o debate sobre a soberania brasileira na gestão de seus recursos naturais. Especialistas apontam que a transação reflete a falta de políticas nacionais mais rigorosas para proteger minerais estratégicos, que têm importância crescente nas indústrias de defesa e tecnologia de ponta.