
O canal da Doca, em Belém, conhecido pelo forte odor causado pelo despejo de esgoto in natura, está passando por um processo de revitalização que promete transformar a paisagem e melhorar a qualidade ambiental da região. Com a implantação do Parque Linear da Nova Doca, um conjunto de tecnologias sustentáveis está sendo implementado para recuperar a área e eliminar a poluição do canal.
Entre as soluções adotadas, destaca-se o uso de wetlands, um sistema natural de tratamento de efluentes que utiliza plantas aquáticas para purificar a água. Essa tecnologia, já empregada em diversas partes do mundo, alia eficiência e baixo custo, sendo uma alternativa viável para a recuperação de ambientes degradados. Além disso, a revitalização inclui a construção de uma nova rede coletora de esgoto, evitando que os resíduos domésticos continuem sendo despejados diretamente no canal.
Wetlands: Solução ecológica para tratamento de efluentes
O conceito de wetlands construídos, também chamados de “jardins filtrantes”, é baseado na capacidade natural de determinadas plantas de absorver e degradar poluentes. O sistema é composto por espécies vegetais que promovem a filtragem dos efluentes, removendo impurezas e reduzindo significativamente a carga orgânica presente na água.
Além de sua eficácia, essa tecnologia possui diversas vantagens ambientais. Diferente de estações de tratamento convencionais, que utilizam produtos químicos e exigem alto consumo energético, os wetlands operam de forma passiva, necessitando de pouca manutenção e não gerando resíduos tóxicos.
A técnica já é consolidada em diversos países. Nos Estados Unidos, wetlands são usados para tratar efluentes sanitários e industriais, como nos sistemas inovadores implementados na Geórgia e no Texas, que ajudam a abastecer reservatórios. No Reino Unido, o maior wetlands do país, localizado em Hanningfield, trata resíduos de estações de água, contribuindo para a preservação ambiental. Na Escandinávia, países como Suécia e Noruega utilizam a tecnologia para o reaproveitamento agrícola de lodos, enquanto no Oriente Médio, Omã abriga o maior sistema de wetlands do mundo, com 360 hectares dedicados ao tratamento de águas residuais provenientes da extração de petróleo no deserto.
Nova Doca: Projeto sustentável e urbanístico
A revitalização da Nova Doca não se limita apenas ao uso de wetlands. O projeto combina outras tecnologias sustentáveis, como os wetlands flutuantes, os jardins de chuva e as biovaletas, criando um ecossistema que favorece a purificação da água e a redução de odores.
Os wetlands flutuantes são ilhas artificiais compostas por flutuadores plásticos de alta densidade e uma base de fibra de coco. Nessas ilhas, as raízes das plantas absorvem matéria orgânica da água, promovendo um processo natural de filtragem. Esse modelo permite uma purificação contínua dos efluentes, sem impactos ambientais negativos.
Já os jardins de chuva e as biovaletas utilizam plantas fitorremediadoras no solo e diretamente na água para reter resíduos e impedir que substâncias poluentes cheguem ao canal. Essas soluções são fundamentais para a manutenção da qualidade da água a longo prazo.
De acordo com Lourival Neto, diretor de Valor Social da Vale, empresa que apoia a iniciativa, a implementação dessas tecnologias representa um avanço significativo para a infraestrutura ambiental de Belém. “Os wetlands utilizam a própria natureza para tratar esgoto, sem necessidade de produtos químicos ou alto consumo energético. Além disso, o efluente será tratado no próprio parque, sem sobrecarregar o sistema público”, destacou.
Para garantir a máxima eficiência do sistema, a Nova Doca contará com oito espécies de plantas macrófitas, responsáveis pela filtragem da água. Entre elas, destacam-se chapéu de couro, inhame, inhame roxo, helicônia-papagaio, cana índica vermelha, cana índica amarela, tália, taboa, papiro e grama esmeralda.
Impacto urbano e ambiental da Nova Doca
Com 63% das obras já concluídas, o projeto não apenas solucionará problemas ambientais, mas também trará melhorias para a infraestrutura urbana da região. Além do sistema de esgoto e da recuperação do canal, a Nova Doca contará com áreas verdes, academia ao ar livre e uma ciclovia, tornando-se um novo espaço de lazer e integração para a população.
A revitalização do canal também impactará diretamente o turismo em Belém, já que a área faz parte de um dos principais polos turísticos da cidade. A proximidade com locais como Porto Futuro II, Estação das Docas e Ver-o-Rio garante que a Nova Doca se torne um novo atrativo para moradores e visitantes, fortalecendo o potencial econômico da região.