
A entrega de 260 novos ônibus em Belém tem gerado controvérsias sobre a substituição dos cobradores e os impactos para o setor de transporte rodoviário na região metropolitana. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, mais de 3 mil cobradores podem ser desligados devido à ausência de espaço destinado a esses profissionais nos novos veículos.
“O motorista vai ter que dirigir e cobrar, colocando em risco a segurança de todos. Não somos contra a modernidade, mas tudo está sendo feito na ‘marra’, sem conversa com os trabalhadores e o sindicato”, afirmou Altair Brandão, diretor do sindicato.
A frota, composta por ônibus equipados com ar-condicionado, wifi, câmeras, GPS em tempo real e acessibilidade, começou a circular recentemente. No entanto, os novos veículos não possuem assento para cobradores e operam com duas catracas automáticas.
Segundo o sindicato, a mudança está sendo implementada sem diálogo com a categoria. “Há uma convenção coletiva em vigor que proíbe a retirada dos cobradores, o que está sendo desrespeitado”, afirmou Brandão.
A principal preocupação gira em torno do tempo de embarque dos passageiros, já que Belém ainda mantém o uso predominante de dinheiro em espécie para o pagamento das tarifas. Em outras capitais, sistemas com cartão recarregável já estão consolidados.
Desde o início da circulação dos novos ônibus, usuários relatam atrasos e maior tempo de espera. Motoristas precisam conduzir, cobrar, dar troco e liberar a catraca, o que, segundo relatos nas redes sociais, tem causado lentidão no serviço.
O reajuste tarifário também está no centro da discussão. A passagem subiu para R$ 4,60, com meia-passagem a R$ 2,30. Movimentos populares, como o Coletivo Juntos, anunciaram manifestações contra o aumento. “A passagem aumenta de valor sem que todos os 300 ônibus comprados estejam rodando”, afirmam.
A entrega dos ônibus foi realizada no estacionamento do Estádio Mangueirão, no último sábado (13), com a presença da Prefeitura de Belém, governo do Estado e representantes do Setransbel. Segundo a assessoria do município, “os outros 40 veículos restantes chegarão nos próximos dias e até o final deste mês estarão emplacados e licenciados, à disposição da população”.
A Prefeitura afirma que o processo faz parte da renovação da frota e da modernização do sistema de transporte da capital. Em nota, informou que questões ligadas à operação e relações de trabalho cabem ao Setransbel, “uma vez que se trata de uma relação trabalhista na qual a prefeitura não legisla e nem tem gerência sobre”.
A proposta também prevê um aplicativo que permitirá o rastreamento da frota em tempo real pelos passageiros.
Caso não haja negociação, o sindicato alerta para a possibilidade de paralisação dos serviços em Belém, Ananindeua e Marituba.
Com informações de Olavo Dutra
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