Mais de 20 pacientes que passaram por cirurgias oftalmológicas em uma clínica de Belém denunciaram infecções bacterianas graves que, em alguns casos, resultaram na retirada do globo ocular. A clínica investigada, São Lucas, localizada no distrito de Icoaraci, é alvo de investigações conduzidas pela Polícia Civil, pelo Ministério Público do Pará (MPPA), pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) e pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma).
Segundo o advogado Cássio Souza, que representa 11 das vítimas, 16 pacientes precisaram remover os olhos para evitar que a infecção se espalhasse. O CRM investiga a conduta ética dos profissionais envolvidos, enquanto a Polícia apura o possível exercício irregular da medicina.
Cirurgias de glaucoma e catarata em mutirão
Os procedimentos foram realizados em 1º de julho, durante um mutirão que atendeu mais de 40 pacientes. No entanto, a Secretaria de Saúde de Belém negou que a ação fizesse parte de um mutirão, classificando os procedimentos como parte da rotina semanal da clínica. No dia 12 de junho, 41 pacientes foram atendidos, e dois deles tiveram complicações. Já no dia 1º de julho, 22 dos 40 pacientes operados apresentaram intercorrências após cirurgias de catarata.
Os primeiros sintomas de infecção começaram a aparecer poucos dias após as operações. Algumas vítimas precisaram passar por transplantes de córnea, mas em muitos casos, a medida não foi suficiente para salvar a visão. Uma das pacientes, Albanise Soares, de 65 anos, que realizou a cirurgia por meio do SUS, teve o globo ocular removido devido à gravidade da infecção. A filha da paciente relatou más condições de higiene na clínica, incluindo lixo e até uma barata morta no chão.
Consequências para as vítimas
Entre os pacientes afetados está um fotógrafo que precisou de três intervenções cirúrgicas para controlar a infecção. Embora tenha conseguido salvar o olho, o nervo ótico foi comprometido, resultando em cegueira no lado esquerdo. O fotógrafo relatou que os sintomas surgiram logo após a retirada do tampão ocular no dia seguinte à cirurgia.
Investigação e medidas das autoridades
A Polícia Civil e o MPPA investigam o caso, incluindo possíveis práticas irregulares como exercício ilegal da medicina e venda casada de procedimentos. A clínica São Lucas teve suas atividades suspensas preventivamente pela Secretaria de Saúde, e a Vigilância Sanitária realizou inspeções no local. De acordo com o CRM-PA, foram constatadas irregularidades como a presença de formol jogado no chão e a falta de controle adequado do processo de esterilização de materiais.
A clínica, por meio de seu advogado, negou a realização de mutirão e afirmou que todas as cirurgias foram precedidas de consultas médicas adequadas. O caso segue em investigação, enquanto as vítimas e suas famílias aguardam por justiça e esclarecimentos sobre as graves consequências dos procedimentos realizados.