Coluna

O Dia em que Bolsonaro merendou Helder

Por Eduardo Cunha

Se você é um daqueles que acredita que Helder convidou Bolsonaro para inaugurar uma simples praça pela quinta vez, que não está terminada e que permanecerá fechada ao público, me desculpe, mas você é ingênuo. Se, por outro lado, acredita que o capitão topou porque é trouxa para cair em conversa de Barbalho, aí a coisa ainda é mais grave e seu grau de ingenuidade é nível hard.

Nem uma coisa e nem outra. É que o Brasil não é para amadores, como uma vez disse o maestro soberano. 

O Governador Helder convidou o Presidente da República, por conta de uma negociação que estava sendo costurada já com o ministro Tarcísio de Freitas pela cessão dos espaços do Aeroclube e dos Armazens do Porto de Belém, do Governo Federal para o do Estado. Ora, qual melhor hora do que esta em que ex presidente Michel Temer, do mesmo partido de Helder e seu pai, cacique do MDB, foi convidado a chefiar missão no Líbano?

Mas no decorrer daquele dia, Helder iria entender que havia entrado pelo cano e dado um grande tiro no pé. 

Logo que desembarcou as únicas palavras trocadas entre Governador e Presidente foram secos “como vai?” e em resposta “tudo bem”. Essas seriam as únicas daquele dia.

Após atender a inúmeros pedidos de selfie e cumprimentar os colaboradores que lhe aguardavam no saguão, Bolsonaro puxou o Prefeito Zenaldo para conversar em particular em uma área reservada. Do que trataram ninguém sabe, mas certamente deve ter passado pelo apoio na campanha para prefeitura em 2020.

O que fez Helder? Sentindo-se preterido, tentou entrar na reunião e pasmem…..foi barrado. Isso mesmo, barrado no baile. Alguém do cerimonial ainda tentou convencer os seguranças do presidente de que aquele tratava-se do Governador do Pará e que fora ele quem havia convidado Bolsonaro, e pererê parará, mas não obteve sucesso algum, apenas fez Helder protagonizar uma das cenas mais constrangedoras da história da política paraense.

Dali, foi só ladeira abaixo. Diferente de outras visitas ao Estado, Bolsonaro foi em carro próprio e, para infelicidade do Governador, acompanhado do Deputado delegado Éder Mauro, seu desafeto desde que desembarcou do governo. 

Antes de chegarem ao porto futuro, uma paradinha no porto para uma foto, a pedido do Presidente. Mais uma vez Zenaldo e Eder Mauro na foto e Helder de fora. 

Já dentro do Porto Futuro, um coffee break antes dos discursos de praxe e o desconforto já era visível a todos. Um grupo com Bolsonaro de um lado e  de outro Helder, com uma cara de quem comeu um sorvete de andiroba com calda de copaíba. 

O resto, todos sabemos no que deu: uma enorme, sonora e retumbante vaia ao sr governador em seu discurso. Helder em sua fala ainda tentou pressionar o Presidente com os pedidos de concessão do aeroclube e do porto. 

Bolsonaro, por sua vez, como antes em entrevista ainda no carro, tratou de mostrar por A mais B que o estado do Pará havia sido o estado que mais recebeu recursos do Governo Federal contra o corona vírus, contradizendo a frase de Helder e de seu jornal, O DOL, de que o estado quase nada recebeu do Governo Federal para o combate ao Corona vírus. Nada falou sobre os pedidos de Helder sobre a cessão.

A única coisa que Helder conseguiu que Bolsonaro naquele dia foi que cortasse uma faixa de inauguração daquelas para inglês ver. Nada mais. Bolsonaro colocou Helder no bolso direitinho.

Em vez dos espaços Helder ganhou vaias. Em vez de merendar, foi merendado.

Aqui cabe muito bem o ditado “ foi colher lã e saiu tosquiado”

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