Militares dão golpe de estado e prendem presidente e líder do governo de Myanmar
Os militares deram um golpe de estado em Myanmar nesta segunda-feira, 1º, e prenderam a líder “de facto” do país, a Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, por considerarem que houve “fraude eleitoral” no pleito disputado em 8 de novembro.
Além de Suu Kyi , que não pode assumir a presidência do país porque tem filhos com um homem estrangeiro, foram presos também outras autoridades de alto nível, como o mandatário Win Myint .
Myanmar (antiga Birmânia) é uma nação do sudeste asiático com mais de 100 grupos étnicos, que faz fronteira com Índia, Bangladesh, China, Laos e Tailândia. Rangum, a maior cidade do país, conta com mercados movimentados, vários parques e lagos e o imponente pagode dourado Shwedagon, que contém relíquias budistas e data do século VI.
Novo presidente – Após o anúncio do golpe, os militares informaram ainda que declararam um ano de estado de emergência e que o novo presidente interino será o general Min Aung Hlaing, chefe das Forças Armadas .
Em uma nota veiculada pelas emissoras estatais, já que as demais tiveram seus sinais bloqueados, os militares ainda informaram que convocarão “novas eleições ” após esse período.
Também através de comunicado, Suu Kyi pediu que a população “não aceite o golpe de Estado” e que “proteste” contra a interferência.
Comunicação deficitária – Por conta do golpe, porém, a comunicação nas principais cidades de Myanmar está prejudicada, com cortes na internet e nas linhas de telefone. Além disso, bancos e caixas eletrônicos não estão funcionando. Soldados estão monitorando as principais ruas da capital Nay Pyi Taw e da maior cidade do país, Yangon .
Com isso, o país que teve seu primeiro governo civil a partir de 2015, após 25 anos de ditadura militar, voltará a viver sob um regime não democrático. Suu Kyi, que ficou presa entre os anos de 1989 e 2010, liderou seu partido – o Liga Nacional para a Democracia (NLD) – para duas vitórias eleitorais consecutivas, sendo a última com mais de 70% dos votos.
Golpe de estado – O golpe de estado em Myanmar veio na semana em que o Parlamento eleito em novembro se reuniria pela primeira vez para tomar posse oficialmente. No entanto, há semanas os militares começaram uma campanha afirmando haver “milhares” de denúncias de fraudes no pleito.
A Comissão Eleitoral da União informa que não detectou nenhum problema na disputa. O NLD conquistou 346 dos 476 assentos do Parlamento para não militares. Isso porque, em 2008, ficou decidido que os membros das Forças Armadas teriam um quarto das vagas. Os militares também tinham direito ao controle dos Ministérios de Assuntos Internos, Defesa e Relações Exteriores.
Porém, a oposição política a Suu Kyi também é apoiada formalmente pelos militares através a sigla União, Solidariedade e Desenvolvimento (USDP) que se negou a reconhecer o resultado formal. Além disso, diversos partidos de minorias étnicas, especialmente rohingyas, não puderam concorrer na disputa eleitoral e cerca de dois milhões de moradores não conseguiram votar.
O Exército e o governo de Myanmar, em 2017, provocaram a expulsão e a perseguição de milhares de pessoas dessa minoria étnica para Bangladesh. O caso abalou a imagem internacional de Suu Kyi, com um duro relatório inclusive das Organização Nações Unidas (ONU) contra ela. Porém, internamente, a expulsão dos rohingyas foi vista com bons olhos pela maior parte da população, mantendo sua popularidade em alto nível.
Segundo analistas, os militares não aceitaram que Suu Kyi obtivesse tanto apoio popular e, por isso, denunciaram fraudes para as quais nunca apresentaram provas – afinal, também não apoiam a causa rohingya.
Condenação – Líderes e órgãos do mundo condenaram tanto o golpe como a prisão dos líderes políticos e pediram a retomada do processo democrático.
Fonte: Último Segundo/ IG