Francisco: o papa que dedicou sua voz à Amazônia e seus povos
Pontífice deixou legado de defesa do bioma e dos ribeirinhos, com exortação histórica e nomeação do primeiro cardeal da região

O Papa Francisco, falecido nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, foi um dos líderes globais mais engajados na proteção da Amazônia e na defesa de seus povos tradicionais. Em 2019, após o Sínodo para a Amazônia, ele publicou a exortação “Querida Amazônia”, documento no qual clamou por justiça socioambiental: *”Impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres”*. O texto sintetizava seu sonho de uma região que integrasse todos seus habitantes, garantindo o “bem viver” — conceito inspirado nas cosmovisões indígenas.
Um sínodo histórico e a escuta dos ribeirinhos
Em 2017, Francisco surpreendeu o mundo ao convocar o primeiro sínodo dedicado exclusivamente à Amazônia, realizado em 2019 em Roma. O encontro reuniu bispos, padres e representantes de todos os países da Amazônia Legal, incluindo vozes brasileiras como o padre Amarildo Luciano, reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida em Manaus. “Ele escutou com atenção todas as intervenções”, relatou o religioso, destacando a preocupação do papa com a qualidade de vida dos ribeirinhos e indígenas. Apesar de não ter visitado a Amazônia brasileira, Francisco esteve no Peru em 2018, onde anunciou a ideia do sínodo após ver de perto os desafios da região.
Ecologia integral e inclusão na Igreja
Para Francisco, a defesa da Amazônia estava intrinsecamente ligada à ecologia integral — conceito que une justiça social e ambiental. “Ele nos despertou para o compromisso com essa região rica e de pessoas pobres”, afirmou o padre Amarildo. O pontífice também pressionou por uma Igreja mais inclusiva, defendendo maior participação de leigos, mulheres e comunidades locais nas decisões eclesiásticas.
O primeiro cardeal da Amazônia
Em agosto de 2022, Francisco nomeou dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, como o primeiro cardeal da Amazônia brasileira — gesto simbólico que reforçava seu compromisso com a região. Steiner, em entrevista à época, ressaltou que o papa estava especialmente preocupado com desmatamento, garimpo ilegal e ameaças às culturas indígenas.