A necessidade de adaptar a infraestrutura elétrica para suportar eventos climáticos extremos tem se tornado urgente, e Belém, com seu rico patrimônio histórico e sua arborização icônica, sente o impacto da fiação aérea na paisagem e segurança. A cidade possui uma grande quantidade de postes e redes de cabos sobrecarregados que escondem prédios históricos e limitam a arborização. Além disso, a proximidade dos cabos com as árvores gera podas drásticas que afetam as famosas mangueiras, patrimônio da capital.
Especialistas consultados apontam que a conversão da rede elétrica para subterrânea traria mais segurança e confiabilidade no fornecimento de energia. Segundo o botânico Ricardo Cardim, a fiação aérea tem impacto significativo nas árvores da cidade, levando à “mutilação” da cobertura arbórea.
Benefícios do aterramento e desafios econômicos
A instalação de redes subterrâneas evita interrupções de energia causadas por quedas de árvores durante tempestades, e reduziria riscos como acidentes com fios soltos, pipas e outras interferências. Em 2018, um incidente fatal em São Paulo destacou esses riscos: um folião morreu eletrocutado ao encostar em um poste com falhas no isolamento e fios expostos, exemplificando os perigos da infraestrutura atual.
Entretanto, o alto custo da conversão da rede aérea para subterrânea é um obstáculo. O sindicato das empresas de energia argumenta que a obrigação de enterrar cabos não é viável economicamente, e as concessionárias, regulamentadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), não seguem legislações municipais, o que impede avanços em Belém.
Adaptação climática e urbanística: uma urgência para o futuro de Belém
O engenheiro Ivan Maglio, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, destaca que o aterramento dos fios deve ser feito gradualmente, com prioridade para regiões estratégicas. Para Maglio, o debate sobre enterrar os cabos vai além da estética urbana e abrange a adaptação climática, necessária para proteger a população e preservar o patrimônio de Belém. “Não estamos mais tratando só de estética, de melhor qualidade da paisagem. Agora é para adaptação climática de agora, que é emergencial.”