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As gôndolas de Belém: genialidade, ignorância, potoca ou desespero?

O poeta, romancista, cineasta e dramaturgo francês Jean Cocteau certa vez escreveu: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.” De fato, muitas das grandes obras e projetos da humanidade foram inicialmente desacreditados por seus pares. Há na genialidade algo de arrogância subversiva que transcende seu tempo, como se tivesse, talvez, saudades do futuro.

Um exemplo notável disso foi Leonardo da Vinci, que, entre tantas invenções, como máquinas voadoras, paraquedas e trajes de mergulho, concebeu, em 1502, um projeto de ponte autossustentável para Constantinopla que encaixava blocos como se fossem Lego. Infelizmente, o projeto futurista de urbanismo e navegabilidade foi totalmente desacreditado na época, permanecendo apenas nos registros históricos. Séculos depois, engenheiros do MIT conseguiram emular essa estrutura engenhosa em arco, utilizando uma impressora 3D para demonstrar sua eficácia espantosa.

Pois bem, nesta semana, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, surpreendeu a todos ao anunciar que conectaria o aeroporto da cidade à Baía do Guajará por meio de embarcações turísticas. As dúvidas não são poucas. Será que ele consideraria substituir as atuais pontes por versões autossustentáveis em arco, tal qual Da Vinci, evitando assim colisões entre as embarcações? Ou talvez a implementação de um sistema de eclusas, similar ao do Canal do Panamá, para permitir a travessia independente das marés? Substituiria-se o sistema de esgoto de forma que as “gôndolas turísticas” não navegassem em meio a bosta? E mais, como transformar Belém em uma verdadeira Veneza em tão curto espaço de tempo e poucos recursos?

Genialidade, ignorância, potoca ou desespero? Eis a questão!!!

Alguns aplaudiram a ideia julgando-a genial. Suponho que isto saberemos tão logo chegue 2025 quando a COP-30 for realizada, ou se engenheiros do MIT produzirem uma maquete 3D, acompanhada de uma análise detalhada de prazos e custos para demonstrar a viabilidade deste ambicioso projeto. Até lá, resta considerar outra possibilidade: a ignorância.

Pois bem, poucos dias antes desse anúncio, durante uma entrevista à CBN Amazônia, o prefeito Edmilson fez uma retrospectiva de seu primeiro mandato, alegando ter dragado 800 km de canais por duas vezes, ou seja, 1600 km, o que equivale à distância entre Belém e Fortaleza. No entanto, dados oficiais de sua própria gestão indicam que a extensão total dos canais em Belém é de cerca de 94 km, levantando dúvidas sobre o real conhecimento do prefeito sobre a situação de Belém.

Entrevista do prefeito Edmilson Rodrigues a CBN Amazônia
Trecho de documento elaborado pela Prefeitura Municipal de Belém na atual administração

Mesmo que a ignorância e o desconhecimento sejam plausíveis, como acreditar que um prefeito em seu terceiro mandato desconhece a realidade de sua cidade? Isso nos leva a considerar uma terceira hipótese, a potoca, já que é esse o apelido popular dado a Edmilson, conhecido como Ed Potoca, e , como sabemos, “a voz do povo é a voz de Deus”.

Como já confessou o ex-presidente Lula- seu companheiro- cansou de viajar o mundo falando mal do Brasil e que mentia mesmo, falava de números que nunca existiram. Mitomania é um transtorno que leva à elaboração compulsiva de mentiras, muitas delas criadas com o intuito de ser socialmente melhor aceito. É considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) cujo tratamento normalmente requer ansiolíticos, antidepressivos e terapia. Edmilson já deu vários exemplos deste sintoma que não vos relato aqui, apenas para não cansar o leitor pela exaustão.

Por fim, como não somos psicólogos, partamos para a última hipótese : o completo e caótico desespero. Edmilson e sua equipe não são alheios aos índices de rejeição que acumula, comparáveis aos piores momentos da ex-governadora Ana Júlia Carepa ou da participante do BBB21, Karol conká, após forçar o cantor Lucas Penteado a abandonar o reality.

Ora, o desespero pode levar à falta de lógica e ao apelo para o improvável, seja através da fé, esperança ou discursos surreais que de tão inverossímeis, não convencem nem bêbado de comício.

O tempo dirá!

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