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Amazônia enfrenta recorde de queimadas e se torna ‘barril de pólvora’

A Amazônia registrou um recorde de 14.250 focos de calor no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este é o maior número registrado em duas décadas e representa um aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano passado.

O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, destacou que, embora os focos de calor indiquem um alerta, é crucial mensurar a área efetivamente queimada para compreender o real impacto. Roraima é atualmente o estado em situação mais crítica dentro do bioma amazônico, concentrando 33% dos focos de incêndio detectados por satélites, o maior número desde o início da série histórica em 1998.

Mato Grosso, que abriga partes dos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, também apresentou um recorde de focos de incêndio em todo o país. A Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT) atribui o aumento à estiagem severa e baixa umidade desde o fim do ano passado, o que acumulou material orgânico seco na vegetação, facilitando a combustão.

Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), explica que o déficit hídrico do ano passado e a antecipação da estação seca deste ano deixaram a vegetação extremamente inflamável. Regiões como Mato Grosso e Santarém, no Pará, que normalmente secam mais tarde no ano, já apresentam sinais de seca.

Diante deste cenário, o Ibama está intensificando operações para o segundo semestre, focando principalmente no cinturão do desmatamento, uma área propensa a incêndios que se estende do leste e sul do Pará ao oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.

O governo federal anunciou recentemente uma queda de 38% no desmatamento da Amazônia no primeiro semestre deste ano. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, expressou esperança de alcançar o desmatamento zero no bioma até 2030, uma promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar das ações de redução do desmatamento, Ane Alencar alerta que a Amazônia não é um bioma que queima naturalmente, e que o fogo na região é, em grande parte, de origem humana. O uso do fogo é permitido em situações específicas, como agricultura de subsistência e atividades de pesquisa, mas exige autorização prévia e cumprimento de requisitos rigorosos.

Além das questões climáticas, o desmatamento é um fator fundamental para a propagação do fogo. Muitas vezes, o desmatamento é seguido por incêndios descontrolados que avançam sobre grandes áreas. Identificar e punir os responsáveis por incêndios florestais é um desafio, especialmente em terras públicas ocupadas ilegalmente.

A Amazônia enfrenta atualmente um cenário complexo, agravado pelas mudanças climáticas, pelo fenômeno El Niño e pela criminalidade. As estratégias de combate ao desmatamento e às queimadas precisam ser inovadoras e eficazes para enfrentar a crise. Rodrigo Agostinho defende a necessidade de aperfeiçoar a abordagem ao incêndio florestal, tratando-o com a seriedade de um crime de maior potencial ofensivo.

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