ECONOMIAINTERNACIONALNOTÍCIAS

A aula de economia e tributação do especialista 50 Cent

“A coisa mais difícil de entender no mundo é o imposto de renda”, disse um certo especialista em coisas difíceis chamado Albert Einstein.

Fora o cipoal das declarações de renda, em si, impostos em geral são discutidos há mais de um século por economistas de escolas – e ideologias – diferentes.

Taxar os mais ricos para beneficiar os mais pobres ou incentivá-los a criar possibilidades econômicas que respingarão ao longo de toda a cadeia?

Economistas identificados com a fúria fiscal de esquerda atualmente vendem suas ideias incentivados por dois fenômenos contemporâneos: as fortunas até recentemente inimagináveis, na casa das dezenas e até centenas de bilhões de dólares, e a dura realidade dos fatos sobre quem vai pagar a “conta do corona”, o endividamento de proporções cósmicas que governos de todo mundo fazem para evitar o cataclisma econômico.

“Jeff Bezos poderia dar 105 mil dólares a cada empregado da Amazon e ainda continuar tão rico como era antes da pandemia”, tuitou Robert Reich quando a fortuna de Bezos, a maior do mundo, passou dos 200 bilhões de dólares.

A Amazon emprega um milhão de pessoas.

Reich, ex-ministro de Bill Clinton e assessor de Barack Obama, é da turma de economistas conhecidos que clama por mais impostos sobre fortunas.

Outros dois na linha de frente do Leão são Joseph Stiglitz e o francês Thomas Piketty. Todos, direta ou indiretamente, pressionaram os responsáveis pelo programa de governo de Joe Biden para aumentar ou criar impostos sobre os mais ricos.

Os aumentos combinados propostos por Biden, entre pessoas físicas e jurídicas, são calculados em 4 trilhos de dólares – mais do que dois Brasis – ao longo da próxima década.

Foi um gráfico mostrado num programa de televisão sobre como seriam esses aumentos que provocou a histórica reação do rapper 50 Cent, nome artístico de Curtis Jackson.

O aumento para rendimentos anuais acima de 400 mil dólares levaria a uma carga fiscal combinada, entre tributos estaduais e federais, de 58% no estado de Nova York, 60% em Nova Jersey, 62% na cidade de Nova York e 62,6% na Califórnia.

“Que diabos”, tuitou 50 Cent, usando uma expressão bem menos publicável. “Votem em Trump. Estou fora.”

“Não ligo se Trump não gosta de negros, 62% é um absurdo”.

Sim, ele usou outras palavras para definir absurdo.

Quando uma assessora da campanha de Donald Trump tuitou que o rapper não queria virar 20 Cent, ele concordou plenamente.

Só para lembrar: a vida financeira do cantor é um caos, incluindo uma declaração de falência, possibilidade legal para pessoas físicas existente nos Estados Unidos.

A rebelião fiscal de 50 Cent coincidiu com declarações de outro rapper famoso, Ice Cube, sobre um trabalho conjunto com a campanha de Trump para melhorar a vida dos cidadãos negros.

A lição, dada em termos bem diretos por 50 Cent, sobre o efeito de impostos absurdos remete à própria independência dos Estados Unidos, que teve como gesto fundador a revolta contra o aumento da taxação sobre o chá proveniente da Inglaterra.

A fuga de capital – ou de capitalistas – por causa de taxações escorchantes aconteceu na Suécia, tão venerada pelo sistema de bem estar social, e na França do primeiro mandato de François Mitterrand.

Houve recuos, mas os dois países continuam a ter taxações pesadas, chegando a 60,1% da renda de pessoas físicas na Suécia e 55,1% na França, cobrados a partir de patamares mais elevados de renda.

Jogadores de futebol e cantores, em geral por terem construído suas fortunas do nada, estão entre os taxados mais relutantes, quando não faltosos. 

Neymar tem a dívida mais alta com a receita espanhola – 34,6 milhões de euros. Shakira também está na desagradável lista, depois de uma investigação quase minuto a minuto de sua vida, ao longo de anos, para comprovar que tinha residência fiscal na Espanha e não nas Bahamas.

Depois das declarações coincidentes de 50 Cent e Ice Cube, circulou uma foto adulterada em que os dois apareciam com o boné vermelho do Make America Great Again de Trump.

Os dois foram malhados pela turma de Biden, como se fosse um crime terem opiniões políticas diferentes. 

Ou, no caso de 50 Cent, por pensar com o bolso, uma das mais arraigadas tradições da história da humanidade.

Detalhe: nem mesmo Donald Trump, que esquentou a economia antes do advento do coronavírus com reduções fiscais e desregulamentação, está livre da altamente compreensível tentação de pegar dinheiro dos ricos.

Quando cogitou ser candidato por um terceiro partido, nos anos noventa, propôs um imposto de 14,5% sobre fortunas acima de dez milhões de dólares, a ser cobrado uma única vez.

A classe média vai acabar pagando uma parte dos aumentos defendidos pela equipe de Biden, diz o economista Douglas Holtz-Eakin, porque não é possível “segregar o impacto nas faixas de alta renda de todo o resto” da sociedade.

A conta sempre acaba no lado dos mais fracos.

Fonte VEJA

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar