Um estudo divulgado nesta quarta-feira (11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto Mãe Crioula, apontou que 51% dos municípios do Pará registram a presença de facções criminosas. No total, 73 cidades do estado estão nessa situação, com destaque para o domínio do Comando Vermelho (CV) em 57 delas.
O levantamento, intitulado Cartografias da Violência na Amazônia, revela que a Amazônia Legal enfrenta um crescimento significativo da atuação do crime organizado, com um aumento de 46% no número de municípios afetados entre 2023 e 2024. Na região, o CV lidera com 130 cidades sob seu controle, enquanto o Primeiro Comando da Capital (PCC) domina 28 e outras organizações criminosas se dividem entre 18 localidades.
Interiorização do crime e rotas estratégicas
A pesquisa destaca que a expansão das facções ocorre principalmente em cidades estratégicas para o narcotráfico. Estas localidades, muitas vezes de pequeno porte, estão próximas a fronteiras internacionais, pistas de pouso clandestinas, portos fluviais e áreas de garimpo ilegal.
Apesar de o Pará não estar entre os estados com fronteiras internacionais mais acessíveis, o estudo ressalta que o tráfico de drogas utiliza rotas que atravessam o Oceano Atlântico, muitas vezes passando pelo Amapá. Além disso, pistas de pouso ilegais no interior da floresta amazônica facilitam a logística do crime organizado. Segundo dados do MapBiomas, há mais de 2.800 pistas de pouso clandestinas na Amazônia, a maioria sem registro na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Redução de conflitos e hegemonia do CV
Outro dado preocupante do estudo é o aumento de cidades com monopólio de uma única facção, o que sugere estabilização na guerra entre grupos criminosos. Em 2023, 98 cidades estavam sob domínio exclusivo de uma facção, número que subiu para 176 em 2024.
No Pará, além das 57 cidades dominadas pelo CV, o PCC controla outras cinco. Essa concentração reflete a hegemonia do CV na região, sendo o grupo carioca o mais presente nos estados da Amazônia Legal.
Governo não se manifesta
O estudo trouxe à tona questões sobre a eficácia das políticas de segurança pública no Pará. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) e o secretário Uálame Machado não responderam aos pedidos de comentário.
A ausência de resposta do governo estadual tem gerado críticas, especialmente considerando o contexto de interiorização do crime e a proximidade de eventos de grande porte, como a Conferência do Clima (COP-30), que ocorrerá em Belém em 2025.
