
A síndrome de pica, também conhecida como alotriofagia, é um distúrbio alimentar caracterizado pelo desejo persistente e pela ingestão de substâncias que não têm valor nutricional, como gelo, terra, sabão, papel, argila, cinzas, cabelo, giz, tijolo ou até mesmo metais e pedaços de vidro. Embora pareça incomum, o problema é mais comum do que se imagina e costuma se manifestar principalmente em crianças pequenas e mulheres grávidas.
O termo “pica” tem origem no nome de um pássaro da família dos corvos (Pica pica), conhecido pelo hábito de ingerir qualquer objeto que encontra. No campo da saúde, esse comportamento é classificado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) como um tipo específico de transtorno alimentar.
Segundo especialistas, a síndrome de pica pode ter diversas causas. As mais frequentes estão ligadas à deficiência de ferro, zinco e outras vitaminas e minerais, mas o quadro também pode surgir em pessoas com transtornos mentais, como autismo, esquizofrenia, além de estar associado ao déficit intelectual ou a situações de vulnerabilidade emocional.
Durante a gravidez, por exemplo, é comum que o organismo da mulher tenha uma maior demanda por nutrientes. Isso, somado a alterações hormonais e fatores emocionais, pode favorecer o surgimento da síndrome. Já nas crianças, o comportamento pode ser confundido com a fase oral natural, mas se persistir após os dois anos de idade, pode indicar um distúrbio.
Riscos para a saúde
Os riscos da ingestão de substâncias não comestíveis são variados e, muitas vezes, graves. Podem incluir problemas gastrointestinais, perfuração do intestino, intoxicação, lesões nos dentes e no esôfago e obstruções no trato digestivo. Além disso, esse comportamento pode agravar deficiências nutricionais, criando um ciclo vicioso de má absorção e piora do quadro.
“Mesmo quando a substância ingerida é aparentemente inofensiva, como gelo ou papel, o consumo em excesso interfere na nutrição e na saúde geral do paciente”, alerta o psiquiatra Marcelo Heyde, do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da síndrome de pica é clínico, baseado na observação do comportamento persistente de ingestão de itens não alimentares por pelo menos 30 dias consecutivos. Também é comum que o médico solicite exames de sangue para identificar possíveis deficiências nutricionais e investigar complicações gastrointestinais, como a formação de bezoares (acúmulo de substâncias não digeridas no estômago).
O tratamento varia conforme a causa e a gravidade de cada caso. Em geral, a abordagem é multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos, nutricionistas e, em alguns casos, psiquiatras. Os cuidados podem incluir:
- Suplementação de vitaminas e minerais, como ferro e zinco;
- Psicoterapia para lidar com questões emocionais e comportamentais;
- Uso de medicamentos psiquiátricos, especialmente inibidores de recaptação de serotonina, quando o distúrbio está associado a transtornos como ansiedade, depressão ou transtorno obsessivo-compulsivo.
O mais importante é que a pessoa afetada não sinta vergonha de buscar ajuda médica. O tratamento adequado pode aliviar os sintomas, restaurar a saúde física e mental, e melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente.