
O cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, relembra o apoio que recebeu da professora Maria de Lourdes Benedita Nogueira Fontão, conhecida como Lourdinha, em seu início na vida religiosa. Caçula de uma família de nove irmãos, em São José do Rio Pardo (SP), o então adolescente Orani hesitou em seguir a vocação para não deixar seus pais, já idosos, desassistidos.
A influência de Lourdinha foi decisiva. Ela garantiu suporte à família e incentivou o jovem a seguir o caminho religioso. “Orani falou que queria estudar para padre, mas que não ia por causa dos pais idosos. Minha mãe falou: ‘vá e eu cuido deles. Eu prometo ir lá todo dia levar a comunhão para eles”, afirmou Maria de Lourdes Fontão, filha da professora.
Vínculos mantidos ao longo dos anos
O vínculo com a comunidade de origem e com a família de Lourdinha se manteve mesmo após as mudanças de função e localidade. “Dom Orani nunca deixou de ter um vínculo com a comunidade de onde ele saiu. E nunca deixou de ter um vínculo com a minha família”, afirmou Paulo Celso Fontão, filho de Lourdinha e autor do livro “Um coração para amar”, que relata a história da professora.
Lourdinha faleceu em 1988, em um acidente de carro. Seu marido, o dentista Héber, sobreviveu ao ocorrido. A história de apoio e amizade é frequentemente relembrada por Dom Orani, que reconhece o impacto das ações de Lourdinha em sua formação.
Profecia sobre o futuro religioso
Antes mesmo da ordenação de Orani, Lourdinha afirmou que ele se tornaria bispo e papa. “Quando Orani foi se tornar sacerdote (em 1974), ele era monge do mosteiro e convidou minha mãe para ser madrinha de ordenação sacerdotal”, recorda Paulo Fontão.
A trajetória de Orani incluiu a ordenação como bispo em 1997, arcebispo de Belém em 2004, arcebispo do Rio de Janeiro em 2009 e criação como cardeal em 2014. A expectativa sobre a carreira religiosa do cardeal é reconhecida entre os moradores da cidade natal.
Processo de beatificação e legado de Lourdinha
A proximidade entre Dom Orani e a família de Lourdinha impulsionou o processo de beatificação da professora. A filha de Lourdinha, Maria de Lourdes Fontão, relata que a relação entre as famílias permanece forte: “Orani é um irmãozão em todas as nossas lutas. Ele está sempre muito presente em nossa vida”.
O atual cardeal celebrou o casamento de Maria de Lourdes e batizou seus três filhos. Segundo ela, “a gente sempre se fala por mensagens, dividimos as experiências e lembramos das lutas”.
Influência nas vocações religiosas e profissionais
O legado de Lourdinha se estendeu à vida profissional de seus filhos. Paulo Fontão, médico na zona leste de São Paulo, relaciona seu trabalho com pessoas em situação de rua aos valores transmitidos pela mãe: “Eu sempre procurei entender que seria essa a maneira de fazer o meu trabalho como médico, iluminado pela realidade dessa relação com Deus”.
Paulo também estudou a integração entre espiritualidade e saúde em seus projetos acadêmicos, baseando-se no pensamento do papa Francisco. “Quando comecei a fazer o mestrado e a estudar os textos do papa Francisco, vi que ele fala das periferias existenciais e geográficas. A gente deve se deixar tocar pela realidade”.
Histórias que moldaram vocações
O abade Paulo Demartini, de São José do Rio Pardo, também atribui sua vocação religiosa à influência de Lourdinha e Dom Orani. “Ela era uma mulher muito piedosa e hoje em processo de beatificação. Eu devo a ela a minha vocação. Foi ela que levou dom Orani para rezar as missas no sítio do meu pai”, afirmou.
Demartini conviveu por mais de duas décadas com Orani no mosteiro e destacou características do cardeal: “Ele tem o dom da escuta e da humildade”.
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