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Psica: o festival de musica preta feito para gente branca

Por Ricardo Felix

Esses dias alguém disse em um comentário em uma rede social que o PSICA era um “monte de branco pagando de preto”.  No site da produtora tem um longo manifesto do evento onde eles usam a problemática amazônica, os seus conflitos sociais e ambientais entre grandes corporações agrominerais e as populações afroindígenas.

No entanto, olhando fotos do evento nas redes sociais, a percepção citada no início deste texto tem um fundo de verdade. De pretos e periféricos só mesmo a musicalidade das atrações, mas nem todos ali eram artistas pretos.

Para além disso, o recorte do público presente nos dias do festival era de maioria branca. E olha que estamos falando de um evento em uma cidade como Belém, onde a população preta e parda chega a quase 80%, segundo o último censo de 2010, com números já desfasados.

Mas não só isso. Os preços dos ingressos estavam variando de R$100,00 a R$140,00. Detalhe: Em alguns lotes, a meia entrada, aqui chamada de entrada solidária chegou em alguns lotes a R$120,00. O Show do Gustavo Lima, realizado junto com o PSICA, tinha valores a partir de R$70,00.

Alguém disse que era para ajudar a cultura e que por isso valeria a pena pagar por ingressos mais caros assim como pela cerveja vendida a R$10,00. O projeto ainda contou com patrocínio da Lei Semear e Aldir Blanc, ou seja, teve recursos públicos.

Mas nesse caso, por se tratar de um evento inclusivo e diverso, veja bem, os preços não eram abusivos e os mais baratos tinham o nome bonitinho de “cota solidária”, mesmo que, pelo recorte racial e social, a imensa maioria ali eram de jovens de classe média alta branca.

Nos dias de hoje, a pauta identitária é um forte ativo para o lucro capitalista. Para isso, basta usar a linguagem marcada e característica envolvendo a população preta e indígena (essa pessoa que escreve é preto) que está tudo bem, a classe média pode brincar de diversidade e inclusão com o dinheiro dos impostos do preto periférico que mora longe do Shopping Grão Pará (e seu entorno cheio de condomínios de luxo) e onde o transporte público é difícil para levar até ali.

Mas é isso, rendeu bons stories descolados no Instagram. E a cultura foi ajudada, menos a população preta e pobre, das baixadas de Belém.

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