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Professora chama de ‘esquerdistas’ e expulsa de laboratório alunos do doutorado de federal do Amapá

Macapá (AP) – Uma professora desistiu de orientar dois acadêmicos de doutorado do curso de Farmácia da Universidade Federal do Amapá (Unifap) justificando que eles são “esquerdistas”. A medida foi anunciada no grupo do curso em um aplicativo de mensagens, na quarta-feira, dia 2. A reitoria informou que vai investigar o caso como assédio.

Nas mensagens enviadas na quarta-feira, a professora Sheylla Susan Almeida afirma que se houver outros “esquerdistas” também podem pedir desligamento da orientação.

“Procurem outro professor para orientar vcs. Amanhã estarei entregando a carta de desistência da orientação de vcs. Não quero esquerdistas no laboratório. Portanto, sigam a vida de vcs. E que Deus os abençoe. Se tiver mais algum esquerdista, que faça o favor de pedir desligamento. Ou estão comigo, ou contra mim”, escreveu.

Em nota enviada ao G1 e publicada no perfil dela em uma rede social, Sheylla pediu desculpas aos alunos e disse que se excedeu nas palavras.

Uma das alunas afetadas é a Débora Arraes, que é professora na Universidade do Estado do Amapá (Ueap), que emitiu nota de solidariedade à docente.

Líbio Tapajós Mota é o outro acadêmico que foi abandonado pela orientadora. Ele é professor, tem 42 anos de idade, e integra o programa de Inovação Farmacêutica, em associação em rede de outras universidades da Região Norte. Mota disse que foi avisado da desistência da orientadora após o resultado das eleições de domingo (30).

“Nunca tivemos nenhuma tipo de desentendimento, nem pessoal, nem de cunho político-partidário. Antes desse episódio de ontem, ela mandou dois áudios dizendo que ela sentia muito ódio de mim e que era pra eu me manter afastado dela. No segundo áudio ela dizia, que no dia seguinte ia preparar a carta de devolução de entrega da orientação, da desistência da orientação. Isso aconteceu logo após o primeiro turno das eleições, mas eu não dei atenção para essas mensagens”, comentou.

Mota faz estudo biomonitorado em óleos essenciais de plantas medicinais aromáticas. Ele e Débora já iniciaram as tratativas em busca de um novo orientador. Além disso, já compareceram nesta quinta-feira (3) na Unifap, para colaborarem com a investigação.

Confira a íntegra da nota da PROFESSORA:

Pedido Público de Desculpa

Eu, Sheila Susan, professora efetiva do Curso de Farmácia da Unifap, venho manifestar acerca dos fatos ocorridos em um grupo de WhatsApp que envolve dois alunos, meus orientados. De início, cabe esclarecer que sou ser humano como qualquer outra pessoa capaz reproduzir sentimentos instantâneos. Dessa forma, no calor das eleições, acabei me excedendo nas palavras onde disse para dois alunos que procurassem outro Orientador. No entanto, minha missão como professora não acolhe esse tipo de conduta, posto que dediquei a minha vida pela educação. Não serve preferência política, por razões pessoais, para segregar alunos e deixa-los a própria sorte. Meus alunos são as peças mais importantes do binômio Aluno/Professor. Assim, assumo que me excedi nas palavras e peço desculpas pelo ocorrido, as eleições passam e a educação fica! Peço desculpas aos meus alunos Líbio e Débora, à sociedade, bem como à Unifap.

A professora também publicou o pedido de desculpas do perfil dela no Facebook

Confira a íntegra da nota da UNIFAP:

A Universidade Federal do Amapá tomou conhecimento por meio das redes sociais de um fato caracterizado como assédio, desta forma, vem a público mostrar sua indignação e contrapor toda e qualquer forma que reprima o pensamento ou liberdade de nossos acadêmicos e servidores. Registra-se que a UNIFAP não concorda com tal conduta e os fatos estão sendo apurados, bem como serão adotadas as providências necessárias após as devidas apurações.

Confira a íntegra da nota da UEAPA:

A Gestão da Universidade do Estado do Amapá (UEAP) vem a público manifestar solidariedade a Professora Débora Arraes, docente do quadro efetivo da UEAP e atualmente aluna de doutorado da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), que sofreu opressão e assédio por posição política por parte de sua orientadora. Estendemos o sentimento a todos os alunos que tenham sido submetidos a alguma forma de assédio em função de posicionamento partidário. Salvaguardando, sempre a manifestação política respeitosa dentro da nossa universidade. Manifestamos ainda repúdio a qualquer ação de assédio provocada no ambiente acadêmico, seja nas graduações e programas de pós-graduações contra seus alunos ou servidores da instituição, em função de posição política, ou qualquer outra motivação. Acreditamos e trabalhamos para que a liberdade de opiniões possa e deva prevalecer no meio acadêmico e no ambiente social em seus diferentes formatos e formas de expressão, em respeito ao Estado Democrático de Direito em que vivemos no nosso país.

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