O desfecho da Cúpula da Amazônia, nesta quarta feira (9), resultou na formulação da Declaração de Belém. Este documento, com 113 tópicos, representa o entendimento compartilhado entre as nações acerca dos temas relacionados à Amazônia que foram discutidos durante o evento, entre eles o de iniciativas de cooperação, preservação do bioma, combate ao crime organização e desenvolvimento sustentável da região.
Mesmo que possamos considerar o documento um grande avanço na preservação da Amazônia, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, juntamente com sua ministra do meio ambiente, mostraram-se enormemente insatisfeitos, já que a cúpula deixou de abordar a questão da exploração de petróleo na região, como queriam.
Críticas à Cúpula:
Em um discurso eloquente, o líder colombiano expressou críticas contundentes ao texto assinado pelos oito países que são membros do Tratado de Cooperação Amazônica, destacando a ausência de compromisso em relação à redução da exploração de petróleo na região. “Vamos falar dos dissensos, pois os consensos já estão escritos”, iniciou ele assim seu discurso.
Segundo Petro, a política parece incapaz de “se desvencilhar dos interesses econômicos que derivam do capital fóssil”.
Petro afirmou: “Se houver exploração de petróleo na Amazônia, os países da região estarão matando a humanidade”, pois, segundo ele, a floresta deixaria de ser uma “esponja” de dióxido de carbono. “É possível manter uma linha política desse nível? Apostar na morte e destruir a vida? Ou devemos propor algo diferente, que é o que chamo de sociedade descarbonizada?”
Negacionista:
O líder colombiano defendeu a perspectiva de que alcançar a meta de desmatamento zero não é mais suficiente para absorver todas as emissões lançadas na atmosfera. “A solução é deixar o petróleo, o carvão e o gás”, e reforçou que “não existe petróleo verde”.
Parte significativa de seu discurso foi claramente dirigida ao presidente Lula, especialmente quando ele critica a agenda progressista de alguns países da América Latina. “Há um enorme conflito ético, especialmente entre as forças progressistas, que deveriam estar alinhadas com a ciência”, afirmou o presidente colombiano.
“Há um enorme conflito ético, especialmente entre as forças progressistas, que deveriam estar alinhadas com a ciência”
“Os governantes de direita têm um escape fácil, que é o negacionismo. Eles negam a ciência. Para os progressistas, isso é mais difícil. Gera outro tipo de negacionismo: falar sobre transições”, referindo-se ao termo “transição energética” presente no discurso do presidente Lula e na Declaração de Belém.
“Os governantes de direita têm um escape fácil, que é o negacionismo. Eles negam a ciência. Para os progressistas, isso é mais difícil. Gera outro tipo de negacionismo: falar sobre transições“,
O governo Lula tem a intenção de apresentar, possivelmente em agosto ou setembro, um plano voltado para a transição energética e ecológica. Nesse plano, a Amazônia está destinada a desempenhar o papel de um “centro de desenvolvimento verde”, conforme anunciado pelo presidente em 19 de julho.
Por último, na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atuava como anfitrião da cúpula, Gustavo Petro fez um apelo pelo fim da exploração de petróleo na Floresta Amazônica.
Petróleo na baía do Marajó:
A declaração de Petro surge durante um período em que a Petrobrás está em busca de obter uma licença ambiental do Ibama. Essa licença é necessária para que a empresa possa realizar testes de exploração de combustível fóssil na região da Foz do Rio Amazonas, especificamente na Margem Equatorial. Essa área está localizada a uma distância superior a 300 km da costa dos estados do Amapá e Pará.
Plebiscito no Equador:
O discurso do presidente sobre exploração de petróleo e gás no bioma amazônico ganha uma dimensão ainda mais significativa, pois no dia 20 de agosto, juntamente com as eleições para a Presidência e a Assembleia Nacional, os cidadãos equatorianos terão a responsabilidade de decidir, em plebiscito, se devem suspender a exploração de petróleo na região conhecida como bloco ITT, abreviação dos campos de Ishpingo, Tambococha e Tiputini. Essa área está localizada no interior do Parque Nacional Yasuní, um ecossistema amazônico que é frequentemente comparado a uma “Arca de Noé” devido à sua extraordinária biodiversidade.
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