Motéis de Belém se reinventam para receber turistas durante a COP30
Com leitos insuficientes na rede hoteleira, motéis se adaptam para receber participantes da conferência climática da ONU com reformas, nova mobília e ajustes no estilo dos quartos. A expectativa é abrigar parte dos 50 mil visitantes esperados.

Com a proximidade da COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas que será realizada em Belém em 2025, a cidade vive uma verdadeira corrida por hospedagens. Estima-se que entre 40 mil e 50 mil pessoas estarão na capital paraense durante o evento, mas o número de leitos em hotéis gira em torno de 18 mil. Diante desse cenário, motéis da cidade estão se preparando para suprir a demanda, apostando em reformas estruturais e adaptações no perfil dos quartos para atender aos visitantes.
Na região metropolitana, são cerca de 2.500 quartos de motel disponíveis, o que poderia acomodar até 5 mil pessoas. A informação é de Ricardo Teixeira, diretor regional da Associação Brasileira de Motéis em Belém. Para ele, essa alternativa pode ser decisiva para garantir que a cidade consiga hospedar todos os participantes.
— São quartos com garagem exclusiva, o que ajuda também a evitar congestionamentos e problemas de estacionamento nas áreas próximas aos hotéis — explica.
Teixeira é proprietário do Fit Motel, localizado no bairro do Jurunas, e já iniciou reformas em oito dos seus 34 apartamentos. Segundo ele, tudo está sendo renovado para garantir o conforto necessário aos visitantes da conferência: infiltrações sendo corrigidas, pisos trocados, paredes reformadas e, principalmente, uma ambientação mais neutra. “Vamos tirar itens mais sensuais, como a cadeira erótica. A ideia é transformar o ambiente sem perder o conforto”, afirma. A estimativa é de um investimento de R$ 350 mil para a reestruturação do espaço.
Além das reformas físicas, o empresário planeja oferecer camas maiores (king size), instalar TVs smart, adquirir roupas de cama premium e equipar os quartos com armários e cofres. Ele também pretende contratar mais funcionários para os setores de cozinha e limpeza e, para facilitar a comunicação com os hóspedes estrangeiros, quer oferecer aulas de inglês aos colaboradores.
Outro que também está se adaptando é Yorann Costa, proprietário do Motel Secreto, no bairro do Marco. “Estou tirando os quadros sensuais das paredes. A única coisa que não posso tirar é o pole dance”, comenta. Apesar de reconhecer que alguns itens podem causar constrangimento, ele acredita que o desconforto inicial pode ser superado com o tempo.
Costa estima que poderá hospedar de três a quatro pessoas por suíte, mas prefere fechar pacotes com delegações inteiras, o que exige adaptações específicas. “Fiz proposta para um grupo de Taiwan, e eles pediram até sala para 60 pessoas e transporte. Estamos avaliando a viabilidade”, conta.
As diárias durante a COP30 não serão baratas. No Fit Motel, os preços partem de US$ 750 (cerca de R$ 4.400) para duas pessoas, com café da manhã e jantar incluídos. Os quartos têm entre 21m² e 42m², com antessalas que podem ser usadas para refeições ou reuniões. Já no Motel Secreto, os valores variam de US$ 350 (R$ 2.100) a US$ 950 (R$ 5.600), com suítes de até 80m², equipadas com sauna, banheira de hidromassagem, claraboia e espaço de convivência.
Além dos motéis, outros empresários locais também veem na COP30 uma chance de transformar seus negócios. É o caso de Paulo Alves, dono da Gráfica Alves, em Belém. Ele decidiu transformar o primeiro andar do prédio da gráfica em hotel, após uma proposta de aluguel feita por uma ONG paulista interessada em hospedar 42 pessoas.
“Era um espaço ocioso, que já tinha servido para igreja e que eu queria transformar numa clínica. Mas, com a proposta da ONG, decidi investir em algo maior. Vou usar os R$ 120 mil do aluguel para construir 16 suítes e abrir oficialmente o hotel”, revela Alves.
Além do valor inicial, ele deve investir R$ 200 mil em reformas e ampliações, como a construção de um novo andar, restaurante e varanda. A localização, a cerca de 1 km do Hangar Centro de Convenções e 2 km do Parque da Cidade, torna o local estratégico para os participantes da COP30.
Alves também planeja alugar sua própria casa durante o evento — uma residência com sete suítes — e se mudar temporariamente para o novo hotel com a esposa e o filho. “Fiz uma pesquisa entre os hotéis da região e tentei ser o mais justo possível com os valores. Não quero explorar. Já somos mal falados no Brasil. Cobrar preços absurdos só reforça estereótipos negativos sobre o Pará”, afirma.
Em meio às reformas, expectativas e reservas antecipadas, o que se observa é um movimento de mobilização do setor privado para garantir que Belém esteja preparada para o maior evento internacional da sua história.