
A Ilha de Tatuoca, localizada a cerca de 30 minutos de lancha de Belém guarda uma história fascinante. Apesar de não possuir moradores ou veículos, a ilha desempenhou um papel importante tanto em eventos históricos, como a Cabanagem, quanto na ciência, abrigando o Observatório Magnético de Tatuoca, que monitora o campo magnético da Terra como parte de uma rede global.
Mas o que muitos desconhecem é que, no início do século 20, Tatuoca quase se tornou o local de um experimento crucial para comprovar a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein.
O papel de Tatuoca na ciência
Em 1917, medições do campo magnético começaram a ser realizadas na margem equatorial brasileira, incluindo a região da ilha de Tatuoca. Essas medições estavam ligadas a um experimento planejado para observar um eclipse solar, durante o qual seria possível verificar a curvatura do espaço-tempo, como predito por Einstein.
Contudo, as condições climáticas da região, caracterizadas pela alta incidência de nuvens, levaram os cientistas a descartar a ilha como local para o experimento. Sobral, no Ceará, foi escolhida para a observação, onde os céus mais limpos garantiram o sucesso da iniciativa.
A comprovação da Teoria da Relatividade
A Teoria da Relatividade Geral foi apresentada por Einstein em 1915, após uma década de estudos para expandir sua Relatividade Restrita, proposta em 1905. A nova teoria descrevia o espaço-tempo como um “tecido” deformado pela presença de massas, explicando fenômenos gravitacionais complexos, como as alterações na órbita de Mercúrio, que até então desafiavam a física de Isaac Newton.
O teste definitivo da teoria foi realizado durante o eclipse solar de 29 de maio de 1919. Astrônomos liderados por Arthur Eddington organizaram duas expedições: uma para a Ilha do Príncipe, na África, e outra para Sobral, no Ceará. Enquanto o mau tempo dificultou as observações na África, o céu claro de Sobral permitiu a medição precisa da posição das estrelas próximas ao Sol, confirmando a deformação do espaço prevista por Einstein.
Legado científico e reconhecimento
Os resultados, publicados em novembro de 1919, transformaram Einstein em uma celebridade mundial e colocaram Sobral no mapa da ciência. Apesar de não ter sido o palco das observações, a Ilha de Tatuoca permaneceu ligada à história como um dos locais cogitados para o experimento.
Einstein, ao passar pelo Brasil em sua viagem à América Latina, reconheceu a importância do céu brasileiro na validação de sua teoria. Desde então, a Teoria da Relatividade Geral tem resistido a décadas de testes, com implicações que vão desde buracos negros até ondas gravitacionais, consolidando-se como um dos pilares da física moderna.