Escândalo das garrafinhas PET: esse não dá para engolir

Há mais ou menos uma semana, veio à tona mais um escândalo envolvendo o Governo do Estado e tendo como objeto, mais uma vez, compras superfaturadas com dispensa de licitação em época pandemia. Desta vez, o das garrafinhas PET.
A bem da verdade, o Governo do Estado do Pará já vem colecionando escândalos de superfaturamento, desde que o governador Helder Barbalho decretou estado de calamidade pública, e dispensou o processo licitatório das compras relacionadas ao combate a pandemia causada pela Covid-19.
De lá pra cá, a porteira parece ter perdido a tranca. Em uma matéria específica sobre o assunto, contamos pelo menos 15 denúncias envolvendo o Governo e compras com preço muito acima do mercado. Já passavam a soma dos títulos de Remo e Paysandu juntos.
Neste caso das garrafinhas PET, cada garrafinha de 240 ml de polietileno custou aos cofres públicos o valor de R$ 1,50, ou seja, o mesmo preço de que custa uma garrafa de 500 ml, com água mineral vendida individualmente ao varejo.
O apresentador Sikêra Jr., da RedeTV, ironizando, sugeriu que Helder comprasse Coca-Cola, bebesse e utilizasse as garrafas vazias, o que sairia ainda mais em conta.
Além do valor absurdo, o governo gastou quase R$ 2 milhões para comprar 1.140.000 recipientes sem especificar como iria envasilhar, quem doou esse álcool à Sespa, se o álcool seria líquido ou em gel, e por que teria escolhido um recipiente tão pequeno, 240 ml, quando o mais natural seria de 500 ml para cima.
Um caçador mais esperto percebia que havia tatu nesse buraco.
A explicação que a Sespa deu acabou virando piada nas redes sociais, de tão inverossímil. Com a preocupação inegável de justificar o valor, acrescentou ao preço de cada garrafinha, a rosca, o serviço de sopro (??????), rótulos, tampas, caixa de papelão e até a fita adesiva da caixa de papelão.
Gourmetizaram tanto a garrafinha PET que ficou verdadeiramente difícil de engolir. De repente, vinha com mais acessórios que um iPhone 11 comprado na loja. Até a a caixa de papelão e a fita isolante colocaram nessa conta.
O que o Governo do Pará jamais desconfiaria é que algum servidor espírito de porco encontrasse o paradeiro das 1.140.000 garrafinhas e postasse o vídeo nas redes sociais para todo mundo ver.
Em vez do glamour emprestado pela Sespa em sua nota, as garrafas apareciam entulhadas em um depósito vulgar e cheio de poeira. Sem álcool, sem utilização nenhuma, a não ser servir como totem do desperdício do dinheiro público e escárnio da população mais pobre.
De repente, o iPhone 11 tinha virado um amontoado de tralhas velhas que, sem ter utilidades, colocamos no porão.
Em menos de um dia, caía por terra toda a explicação pouco convincente da Sespa. Para usar uma expressão bastante popular. Vergonha alheia!!!
Até agora, nem o governador e nem a Sespa voltaram a tratar sobre o caso das garrafinhas e muito menos sobre o vídeo. Natural, que salto carpado triplo mortal terão que dar para explicar o inexplicável?
O que infelizmente está muito claro é que o Governo do Pará tinha muito mais pressa em comprar (bem acima do valor) que propriamente envasilhar e distribuir álcool em gel. Para infelicidade do povo pobre que, sem condições e respiradores suficientes, padece nos hospitais públicos até morrer.
Alguma hora o governador Helder Barbalho terá que deixar o silêncio e vir a público explicar quando pretende envasilhar as 1. 140.000 garrafas e distribuir à população carente: antes ou depois da pandemia?
Olha, essa não dá para engolir.



