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China compara tarifaço de Trump à Grande Depressão e alerta para riscos globais

Em nova escalada na guerra comercial, governo chinês critica medidas dos EUA e diz que tarifas podem abrir "caixa de Pandora" semelhante à crise dos anos 1930; Trump mantém tom agressivo

A tensão comercial entre Estados Unidos e China atingiu um novo patamar nesta quarta-feira (9), quando o governo chinês comparou a política tarifária do presidente Donald Trump com a Lei Smoot-Hawley de 1930, uma das responsáveis por aprofundar a Grande Depressão. Em publicação nas redes sociais, a Embaixada da China nos EUA alertou que o aumento recíproco das tarifas pode “abrir novamente a caixa de Pandora”, referência simbólica às consequências imprevisíveis e desastrosas que essa política protecionista pode gerar na economia global.

A declaração foi reforçada pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, que afirmou que os EUA “abusam das tarifas” e estão promovendo ações de “bullying econômico”. A fala se soma a uma sequência de anúncios de novas tarifas promovidas pela gestão Trump, que elevaram os impostos sobre produtos chineses a 125%, após sucessivas rodadas de retaliação mútua entre as duas potências.

O embate começou com a iniciativa dos EUA de aplicar tarifas adicionais sobre importações de diversos países, atingindo 180 nações com taxas entre 10% e 50%. No caso da China, a alíquota aumentou de forma escalonada: começou em 20%, saltou para 54%, depois 104% e, agora, atinge 125%. Pequim respondeu com elevações próprias, que chegaram a 84% sobre produtos norte-americanos.

Trump, por sua vez, justificou a política ao acusar a China de “passar a perna” nos EUA há décadas e declarou, em jantar com líderes republicanos, que agora pretende fazer o mesmo. “Eles sempre nos passaram a perna. Agora vamos passar a perna neles”, disse. Em tom jocoso, afirmou que “líderes mundiais estão puxando seu saco” para negociar acordos bilaterais e que “estão doidos para fechar negócio”.

A retórica agressiva também veio acompanhada de acusações à China de manipulação cambial. Segundo Trump, o governo chinês estaria desvalorizando artificialmente sua moeda para compensar os impactos das tarifas. A medida, segundo analistas, pode representar não apenas uma disputa comercial, mas uma guerra econômica de proporções inéditas, com efeitos sistêmicos sobre o comércio internacional.

A Lei Smoot-Hawley, citada pelos chineses, foi implementada nos Estados Unidos durante a presidência de Herbert Hoover, e aumentou em 20% as tarifas sobre mais de 20 mil produtos. A medida foi duramente criticada por economistas e empresários à época, como Henry Ford, e resultou em retração do comércio global, afetando profundamente a recuperação econômica dos anos 1930.

O paralelo traçado pela China ressalta os perigos de um isolacionismo econômico num momento delicado para as cadeias globais de produção e para a diplomacia internacional. Com o comércio mundial já fragilizado por crises anteriores e tensões geopolíticas, o atual “tarifaço global” pode desencadear um novo ciclo de retração e protecionismo em escala planetária.

A China afirmou que não deseja uma guerra comercial, mas que não hesitará em defender seus interesses até o fim. “Temos vontade firme e meios abundantes. Vamos contra-atacar resolutamente”, declarou o Ministério do Comércio chinês.

Por ora, os efeitos práticos do confronto são sentidos por empresas e consumidores, que já enfrentam aumento de preços e instabilidade em mercados estratégicos. A continuidade dessa disputa tende a impactar também investimentos e projeções de crescimento para ambos os países e para parceiros comerciais no mundo todo.

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