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Os liberais de Belém nem nasceram, mas já morreram

Em Belém, grupos liberais como MLP, Clube Felipe Patroni e o partido NOVO surgiram com a promessa de renovar a política e promover a liberdade econômica. No entanto, imaturidade, desorganização e a adesão a pautas conservadoras levaram ao fracasso desses movimentos. O liberalismo paraense acabou reduzido a um surto descoordenado, sem povo, sem prática e sem futuro.

Nos últimos anos, o Brasil viveu um ressurgimento das ideias liberais, impulsionado pelos protestos de 2013, ainda durante o governo Dilma Rousseff. Em meio à crise de representatividade e ao desgaste da política tradicional, emergiram grupos que defendiam um Estado menor, mais eficiente, menos intervencionista — e Belém seguiu essa mesma onda. Diversos movimentos locais com pautas liberais nasceram com entusiasmo, propondo uma nova forma de pensar a política e de construir uma sociedade baseada em mais liberdade econômica e responsabilidade individual. No entanto, a promessa morreu antes mesmo de amadurecer.

O liberalismo, em sua essência, é uma corrente filosófica e política que valoriza a liberdade individual, a livre iniciativa, o Estado de Direito e a limitação do poder estatal. Duas vertentes que influenciaram fortemente essa nova geração de liberais são a Escola Austríaca e a Escola de Chicago. A primeira, representada por pensadores como Ludwig von Mises, defende uma economia completamente livre de interferências estatais, baseada na ação humana e na ordem espontânea. Já a Escola de Chicago, com nomes como Milton Friedman, prega a importância de políticas monetárias sólidas, livre mercado e uma atuação estatal restrita, mas funcional, especialmente na garantia de direitos e da concorrência.

Em Belém, grupos como o Movimento Liberal Paraense (MLP), o Clube Felipe Patroni, o MBL local e o partido NOVO surgiram com esse discurso de renovação. Cada um, à sua maneira, tentou abrir espaço no cenário político e cultural da cidade. No entanto, o que se viu foi um rápido esvaziamento dessas iniciativas. O que poderia ter sido o início de uma mudança duradoura virou um ciclo de fragmentação, disputas internas, egos inflados e falta de profissionalismo.

A ausência de maturidade política e de visão estratégica levou todos esses grupos a sucumbirem. Muitos se deixaram contaminar por discursos raivosos, aderindo a uma agenda mais conservadora, típica do bolsonarismo, abandonando pilares fundamentais do liberalismo como a defesa das liberdades individuais, a laicidade do Estado e o respeito à diversidade. Questões como os direitos da população LGBT, das mulheres e da população negra foram simplesmente ignoradas ou tratadas com desprezo — em um completo descompasso com o que prega o verdadeiro liberalismo.

O partido NOVO, por exemplo, teve dificuldades de se enraizar em Belém. Internamente desorganizado, com candidatos sem apelo popular, preso a um tecnicismo elitista e distante da realidade da maioria da população, o partido acabou restrito a um nicho pequeno, inexpressivo. O resultado nas eleições municipais de 2024, com o desempenho apagado de Ítalo Abati, é sintomático desse fracasso.

No fim, o que se viu foi um surto coletivo de jovens deslumbrados com teorias que não compreendiam plenamente, com sérios déficits de atenção e uma dissociação completa entre discurso e prática. Faltou base, faltou povo, faltou humildade para ouvir e construir. O liberalismo paraense não morreu — ele sequer chegou a nascer de verdade.

A pergunta que fica é: será que Belém, um dia, terá liberais de verdade? Que saibam aliar teoria e prática, liberdade econômica e justiça social, com respeito à diversidade e compromisso democrático? O futuro dirá. Mas, por ora, resta apenas o vazio das promessas que não chegaram a florescer.

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