Brasil já perdeu mais profissionais de enfermagem para o coronavírus do que Itália e Espanha juntas

Enfermeiras são quase 85% dos trabalhadores de enfermagem, e, ao lado delas estão homens que todos os dias atuam na linha de frente do combate ao coronavírus nos hospitais brasileiros. Essas pessoas estão morrendo a uma taxa alarmante, uma das maiores do mundo.
De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), foram identificados 73 óbitos de profissionais pela Covid-19 no Brasil. São vítimas jovens, a maior parte (41) tinha menos de 60 anos, sendo uma delas de apenas 29 anos. A cidade de São Paulo, maior epicentro da crise sanitária no País, lidera o ranking com 18 mortos, seguida por Rio de Janeiro, com 14 casos.
O Cofen lançou uma plataforma para monitorar as mortes na enfermagem em todo o Brasil, com o auxílio dos Conselhos Regionais. Além destas vítimas, outros 16 óbitos envolvendo trabalhadores da área ainda estão sob análise, aguardando resultado de testes.
Comparação – Para efeito de comparação, os Estados Unidos, país com maior número vítimas da pandemia (mais de 71 mil), perdeu 46 profissionais de enfermagem, segundo entidades de classe americanas. A Itália, segunda nação mais afetada pela doença com mais de 29 mil vítimas, teve 35 óbitos, de acordo com informações da Federazione Nazionale degli Ordini delle Professioni Infermieristiche, entidade equivalente ao Cofen no país europeu.
A Espanha, que vem logo atrás com mais de 25 mil mortos, teve apenas quatro óbitos entre profissionais da área, segundo o Consejo General de Enfermería. Os dois países europeus tiveram o início da crise antes que o Brasil e já passaram do pico de casos.
Os dados da China, apesar da terem a confiabilidade contestada, somavam 23 até o final de abril. Por fim, o Conselho Internacional de Enfermagem estima que “mais de 100 enfermeiros e técnicos perderam a vida pela Covid-19 enquanto trabalhavam na linha de frente”. Ou seja, o Brasil corresponde à maior fatia do total global de óbitos na profissão. O órgão, no entanto, reconhece que este balanço é apenas a ponta do iceberg.
A situação dos profissionais de Saúde é crítica em todas as cidades onde o sistema sanitário se aproxima, ou já chegou, ao colapso, como Manaus (AM), Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), por exemplo. Com as unidades de tratamento intensivo quase lotadas, prefeituras e Estados tentam como podem abrir mais vagas para atender a população com coronavírus.
“Um dos fatores [para a alta mortalidade] é que boa parte dos serviços de Saúde não afastou profissionais com idade avançada, acima de 60 anos, e com comorbidades. Eles continuam atuando na linha de frente da pandemia quando deveriam estar em serviços de retaguarda ou afastados”, afirma Manoel Neri, presidente do Cofen.
Falta de equipamentos – Outro problema enfrentado pelos profissionais da enfermagem é a falta de equipamentos de proteção individual, os Equipamento de Proteção Individual (EPIs). “Não apenas escassez quantitativa desses produtos, mas também a qualidade do material é questionável. Outra questão é o treinamento das equipes para usá-los: muitos profissionais se contaminam ou pelo uso inadequado do EPI, ou então na hora da desparamentação [retirada da máscara, luvas e avental]”, diz Neri.
Fonte: jornal El País