
Uma imagem que circula nas redes sociais mostra um dos ônibus troncais, adquiridos para circular exclusivamente nas canaletas do BRT da Augusto Montenegro, sendo repintado com as cores das linhas tradicionais, o que indica sua provável readequação para uso em linhas convencionais.
Esses ônibus, comprados ainda em 2016, tinham como finalidade alimentar o BRT Belém a partir dos bairros periféricos, como Icoaraci, Tenoné e Tapanã, além de atender o trecho troncal entre a Estação Maracacuera e o Terminal de São Brás. No entanto, com o passar dos anos e o desmonte gradual do planejamento original, os coletivos deixaram de operar exclusivamente no corredor e passaram a ser usados fora da função para a qual foram adquiridos.
A Belém-Rio detém a maior parte desses veículos e, segundo denúncias, mantém vários deles parados em suas garagens desde a chegada dos novos ônibus com ar-condicionado, conhecidos como “Geladões”, em abril deste ano. Agora, de forma silenciosa, parte desses veículos está sendo repintada e aparentemente preparada para voltar às ruas como se fossem novos, descaracterizando completamente sua proposta inicial.

Menos ônibus no BRT, mais superlotação
A mudança é vista como um desvio de finalidade. Os ônibus troncais possuem estrutura específica para circular nas faixas exclusivas e garantir agilidade ao transporte coletivo. Com a retirada progressiva desses veículos do BRT, o número de ônibus articulados – que são essenciais para atender a alta demanda nos horários de pico – vem diminuindo drasticamente, gerando cenas cada vez mais frequentes de superlotação e atrasos nas estações.
A revolta da população cresce à medida que o sistema, que prometia revolucionar a mobilidade urbana de Belém, se transforma em uma rede cada vez mais precária. Enquanto isso, bairros inteiros continuam mal atendidos, como é o caso da Ilha de Outeiro, uma das áreas mais populosas da capital paraense, que sequer foi contemplada com os Geladões. Lá, os moradores ainda dependem de veículos antigos, sem refrigeração, frequentemente quebrando nas vias e colocando em risco a segurança dos usuários.
Até o momento, nem a empresa Belém-Rio nem a Prefeitura de Belém se pronunciaram sobre o reaproveitamento dos ônibus troncais e o processo de repintura, que está sendo tratado sem qualquer comunicação oficial. A falta de transparência só aumenta as suspeitas de que os veículos estão sendo maquiados para parecer novos, quando na verdade são ônibus antigos realocados, o que pode configurar maquiagem de frota.
O cenário reforça a percepção de que o BRT Belém está sendo sistematicamente desmontado. O projeto, que deveria oferecer transporte rápido, seguro e eficiente, vem sendo esvaziado ano após ano, sem planejamento, sem fiscalização e sem compromisso com o bem-estar dos passageiros. A sensação, para quem depende do transporte coletivo, é de descaso e abandono.