Viviane Batidão ganha destaque no jornal “Folha de São Paulo”: ” Não quero me moldar para encaixar num padrão sulista”
Após vitória no prêmio Multishow, cantora paraense aposta em levar o tecnomelody ao Brasil sem perder suas raízes.
Viviane Batidão, a “rainha do tecnomelody”, tem conquistado cada vez mais reconhecimento, não apenas nas redes sociais, mas também nos maiores veículos de comunicação do Brasil. A cantora paraense, que já tem uma carreira de quase 20 anos, vem ganhando destaque nacional, inclusive com sua recente vitória na categoria “Brasil” no Prêmio Multishow. Nesta sexta-feira, 27, a cantora foi tema de uma longa reportagem da Folha de São Paulo.
A trajetória de Viviane começou de forma simples, sem grandes expectativas de sucesso fora do seu estado natal. Em 2017, ela decidiu lançar suas músicas no Spotify, sem saber que poderia ser remunerada pelas reproduções. Depois de um período de dificuldades, em que chegou a ser vítima de um golpe, a artista viu sua música, “Vem Meu Amor”, tornar-se um clássico no norte do Brasil e finalmente alcançar a visibilidade em outros estados.
Seu estilo, o tecnomelody, é uma variante mais suave do tecnobrega e tem suas raízes profundas na cultura musical paraense. Viviane, que cresceu ouvindo cumbia, merengue e brega, diz que a cultura local está profundamente entranhada em seu ser. A cantora é uma das poucas representantes de um gênero musical que tem grande força no Pará, mas ainda não se consolidou no restante do país.
Apesar de sua ascensão, Viviane não deseja se vender para os padrões musicais do sul e sudeste do Brasil. Ela tem sido clara sobre sua intenção de expandir sua carreira, mas sem perder a autenticidade de sua música e a identidade cultural do Pará. Para ela, a missão é levar o que é consumido no estado para o resto do Brasil, respeitando suas origens.
“Eu estava muito conformada em fazer o que faço dentro do meu estado, para o meu público”, diz. “Fui muito clara com o escritório [que a contratou para tentar nacionalizar sua música]. Vamos expandir, mas não quero deixar de ser quem eu sou. Não quero me moldar para encaixar num padrão sulista. Minha missão é tentar levar o que de fato a gente consome aqui. Se não der certo, volto feliz. Mas se der, vai ser muito bom.”
Viviane também tem se destacado por suas versões de músicas internacionais em português, muitas vezes criando novas sonoridades a partir de sucessos de artistas como Rihanna e LP. Essa abordagem criativa a ajudou a se firmar no cenário nacional, mas a cantora ainda enfrenta o desafio de adaptar sua carreira para os novos tempos da indústria musical, especialmente no que diz respeito à distribuição digital e ao algoritmo dos streaming.
“Mesmo sendo de um interior muito próximo à capital, eu era do interior e pobre. Tinha medo até de escada rolante e elevador”, ela diz. “Com uns 7 anos, eu ouvia muita cumbia, merengue, lambada e os ritmos aqui de cima. É diferente da galera do sul e sudeste. Por causa das aparelhagens, eu dormia e acordava ouvindo brega. Não tem como fugir de algo que está entranhado dentro do meu ser.”
Com um show cada vez mais elaborado, que inclui coreografias e espetáculos cênicos, Viviane está pronta para conquistar novas plateias no Brasil. Porém, ela defende que o sucesso de sua carreira não deve ser individual, mas sim coletivo, com outros artistas da região ganhando visibilidade, fortalecendo uma base cultural que ela acredita ser essencial para sustentar o movimento no futuro.
“O topo não derruba a base. Mas a base derruba o topo. Se tu chegar sozinha lá, e te derrubarem, a base cai e o topo cai. Agora, se tu chegar lá em cima e levar um movimento junto, mesmo se tu cair, não derruba a base.”