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Rastreabilidade do gado no Pará pode impulsionar pecuária e conter desmatamento

Estudo estima que programa pode gerar até R$ 5 bilhões e ampliar mercado sustentável

O Pará, segundo maior rebanho bovino do Brasil, enfrenta desafios como desmatamento ilegal e grilagem de terras. Para combater esses problemas e aumentar a transparência na cadeia produtiva, o governo estadual lançou, em 2023, o Programa de Integridade e Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Pecuária, que inclui um sistema obrigatório de rastreabilidade individual do gado.

Um estudo da Bain & Company e da The Nature Conservancy estima que a rastreabilidade pode elevar o valor da produção pecuária em até US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões) nos próximos três a cinco anos, além de reduzir perdas sanitárias e aumentar a participação de produtores no mercado formal.

Benefícios econômicos e adesão ao programa

A iniciativa busca impedir a produção em áreas desmatadas ilegalmente e viabilizar a inclusão de pequenos e médios produtores no mercado sustentável. Para incentivar a adesão ao programa, uma das estratégias analisadas é o pagamento direto aos pecuaristas por cabeça de gado rastreada, com um custo estimado de US$ 58 milhões por ano (R$ 290 milhões).

Carlos Líbera, sócio da Bain, enfatiza que a colaboração entre governo, setor privado e pecuaristas será essencial para garantir resultados consistentes em produtividade, sustentabilidade e competitividade. “A articulação entre essas partes deve auxiliar na superação de barreiras e assegurar que os benefícios das intervenções sejam amplamente distribuídos ao longo da cadeia de valor”, afirmou.

Impacto na economia e no meio ambiente

De acordo com o estudo, a rastreabilidade pode agregar valor à produção bovina do Pará por meio de quatro grandes fatores:

  • Exportações: Aumento de 4% a 10% nas exportações de carne rastreada pode gerar entre R$ 575 milhões e R$ 1,15 bilhão adicionais.
  • Mercado interno: Valorização de 3% a 8% no preço da arroba pode acrescentar entre R$ 350 milhões e R$ 800 milhões.
  • Formalização: Redução do mercado informal em 50% a 80% pode adicionar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,65 bilhão à cadeia produtiva.
  • Produtividade: Melhorias no manejo podem elevar a produtividade em até 10%, resultando em um crescimento de R$ 560 milhões a R$ 1,1 bilhão.

Atualmente, cerca de metade do rebanho do estado está em áreas com problemas ambientais, o que dificulta a regularização de pequenos produtores. Segundo os dados, 88% das propriedades com irregularidades ambientais são pequenos imóveis e assentamentos rurais, totalizando mais de 100 mil propriedades e cerca de 6 milhões de cabeças de gado. Já médios e grandes imóveis em situação irregular abrigam 8 milhões de cabeças em 14 mil propriedades.

Fábio Medeiros, diretor da The Nature Conservancy, destaca que o programa pode acelerar a regularização comercial de produtores ao exigir maior conformidade ambiental. “Se, por um lado, promove transparência, por outro, facilita a reintegração ao mercado formal e reduz práticas que dificultam o controle da cadeia produtiva”, explicou.

Sustentabilidade e COP30

Além das exigências de mercado, a rastreabilidade do gado pode se tornar um diferencial competitivo para a pecuária brasileira, especialmente no ano da COP30, que será realizada em novembro, em Belém. Especialistas apontam que a ampliação do programa pode consolidar o Brasil como referência global na produção sustentável de carne bovina.

“É possível produzir e, ao mesmo tempo, preservar a floresta em pé”, afirmou Melissa Brito, da The Nature Conservancy. “Esse modelo representa uma ação pioneira e definitiva para o Brasil”, concluiu.

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