O texto do jornal O Estado de São Paulo, sob o título “A favelização da Amazônia“, não só carece de coerência, como também reforça preconceitos históricos contra a Região Norte e os esforços para descentralizar grandes eventos no Brasil. A crítica à realização da COP-30 em Belém, com o argumento de que a cidade “não tem estrutura” e de que o evento poderia gerar “elefantes brancos”, demonstra uma visão distorcida e alheia à realidade das obras que já estão sendo planejadas.
As melhorias previstas para Belém envolvem projetos essenciais de infraestrutura, como saneamento básico, mobilidade urbana e recuperação de espaços verdes. Diferente do que ocorreu com os estádios da Copa do Mundo de 2014, essas intervenções têm o potencial de transformar a cidade e trazer benefícios duradouros para a população local. Ao ignorar esse fato, o Estadão desconsidera o verdadeiro impacto que a COP pode ter na vida de milhões de pessoas, preferindo perpetuar a ideia de que a Amazônia deve permanecer à margem dos grandes eventos globais.
Além disso, o texto carrega um tom de superioridade típico de quem enxerga o Brasil apenas pelo prisma do eixo Rio-São Paulo. Essa visão centralizadora perpetua a desigualdade regional e desmerece qualquer esforço para colocar o Norte em evidência no cenário internacional. O argumento de que o evento deveria ser realizado em um lugar mais “preparado” mascara a tentativa de excluir regiões historicamente negligenciadas dos espaços de decisão global.
A COP-30 em Belém não se limita a ser um evento de vitrine, mas uma oportunidade real de desenvolvimento sustentável e inclusão social. A Amazônia, frequentemente retratada como vítima da degradação ambiental e da precariedade urbana, precisa de ações concretas e protagonismo – algo que a realização da conferência pode fomentar. É justamente com eventos como esse que se impulsiona a construção de cidades mais resilientes e capazes de enfrentar os desafios climáticos do século XXI.
Ao deslegitimar a escolha de Belém, o Estadão reforça o preconceito de que o Norte não é capaz de sediar grandes eventos, reduzindo a Amazônia a um símbolo de atraso e negligência. Mais do que nunca, o Brasil precisa superar essas visões ultrapassadas e abraçar a diversidade de suas regiões. A COP-30 é uma oportunidade de ouro para que o País mostre ao mundo que desenvolvimento e preservação podem – e devem – caminhar juntos.
A verdadeira “favelização” está nas mentes que resistem a enxergar o potencial de uma Amazônia valorizada e protagonista. Que a COP-30 sirva para desmistificar esses preconceitos e abrir caminhos para um futuro mais inclusivo.