Coluna

O cancelamento de Ivo

Imaginem um jogo de futebol no qual o juiz ganha pontos com a torcida em cada cartão aplicado a um jogador. Ora, choveriam cartões e, convenhamos, este jogo seria “pra lá de chato” não é?

Bem-vindo ao mundo da “lacração”, onde quem aponta os deslizes nas regras do politicamente correto do coleguinha ao lado ganha likes, curtidas, views e outros louros.

Querem um exemplo?

Nesta segunda, 07, o comentarista esportivo do programa Conexão Cultura da Rádio Cultura, Ivo Amaral, de 78 anos, jornalista de longa estrada, ao comentar sobre a saída do presidente da CBF sob denúncias de assédio, cometeu uma gafe terrível, um tremendo vacilo, um mancada. Para usar um jargão esportivo tantas vezes usado pelo comentarista “uma bola fora” do cacete.

Ele disse “pior que a gente nem conheceu a cara da secretária para ver se valia a pena tanto esforço do Caboclo”.

De fato, uma piada infame, infeliz e de profundo mau gosto. Mas, apenas isso. No entanto, pelo rumo que as coisas estão tomando, logo logo vão querer “enquadrá-lo” em um daqueles crimes vagos que ninguém sabe ao certo os elementos nem os limites.

Hoje em dia tudo é crime.

Após o fato, a mídia local deu divulgação e a Comissão de Mulheres do Sindicato dos Jornalistas do Pará, aquele cujos membros estiveram envolvidos em uma briga de bar há pouco menos de um mês, emitiu uma nota repudiando o ato.

Veja aqui.

Não demorou para que o vereador Fernando Carneiro, Vivi Reis, a deputada Marinor Brito e outros lacradores profissionais viessem a público condenar o ato e pedir a cabeça do “machista” em uma bandeja de prata.

Com tanta repercussão negativa, a Rádio Cultura, mesmo após seu reconhecimento do erro, seguido de um pedido de desculpas ao público , suspendeu o comentarista do programa.

Me veio em mente a frase de um outro jornalista, também apaixonado pelo futebol e pelo seu Fluminense, Nelson Rodrigues. O anjo pornográfico uma vez escreveu que “se conhecêssemos a moral de cada um não daríamos as mãos às pessoas nas ruas”.

Bem oportuno.

Francamente, será que o comentarista não fez o que muita gente, com seus amigos em um bar, já não fez igual? Nem me venha falar que isto é coisa de “omi” ou “macho escroto”, pois que as mulheres costumam ser terrivelmente machistas quando se dispõem a ofender uma outra mulher.

Ivo é um profissional com mais de 65 anos de carreira. Não tem histórico de agressão com mulheres ou algo do tipo. Não é um misógino tampouco defende ideias sobre supremacia de gêneros.

Ivo é apenas alguém que não conteve uma piadinha infame, coisa que, como disse acima, possivelmente muitos de nós fazemos longe das câmeras e microfones.

Para os canceladores de plantão a piada inadequada é um pecado mortal.

A Globo perdeu o jornalista William Waack para os canceladores. A Jovem Pan perdeu Rodrigo Constantino para os canceladores, mas eles não são moralmente superiores a ninguém. Um cancelador é apenas um tarado em busca de views.

Mas, para a infelicidade dos terraplanistas, o mundo é redondo e gira, gira, gira. Quem sabe os canceladores provem do próprio remédio e se tornem, amanhã, os mais novos cancelados, afinal, os que nunca escorregaram na cartilha hipócrita do politicamente correto que atire a primeira pedra.

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