Menino brasileiro tem dedos decepados em escola de Portugal; mãe, natural de Belém, denuncia negligência
Caso ocorreu em Cinfães, no distrito de Viseu; família afirma que a escola ignorou agressões anteriores e que o menino era alvo de bullying por ser brasileiro
Um menino brasileiro de 9 anos, filho de uma paraense que vive há sete anos em Portugal, teve dois dedos decepados durante uma agressão dentro de uma escola pública em Cinfães, distrito de Viseu. O caso aconteceu no dia 10 deste mês e provocou a abertura de uma investigação pelas autoridades portuguesas.
Segundo relato da mãe ao G1, o filho havia chegado há pouco mais de uma hora à escola quando foi seguido por dois alunos até o banheiro. Dentro do local, os meninos fecharam a porta sobre a mão da vítima e pressionaram até amputar parte dos dedos. Funcionárias da instituição socorreram o menino, que não conseguiu abrir a porta durante o ataque.
A família mora a cerca de quatro minutos da escola, mas afirma que não foi informada imediatamente sobre a gravidade da situação. A mãe só soube da extensão das lesões quando encontrou o filho dentro da ambulância, já a caminho do Hospital de São João, no Porto. Ela acusa a instituição de falta de transparência e de não ter adotado providências mesmo após denúncias anteriores de violência envolvendo os mesmos alunos.
Ao chegar à escola, a mãe foi conduzida aos fundos do prédio, onde viu o filho com a mão enfaixada e mordendo uma atadura para tentar conter a dor. O resgate, segundo ela, levou cerca de 30 a 40 minutos. A escola entregou aos paramédicos um dos pedaços amputados da mão da criança.
No hospital, a cirurgia durou aproximadamente três horas. Os médicos informaram que não havia possibilidade de reimplante dos dedos, mas utilizaram parte de um deles para cobertura da área onde havia exposição óssea. O menino perdeu a primeira falange do dedo indicador e do dedo médio. Ele ficou internado por um dia.
A unidade médica acionou a assistência social, que notificou a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. O órgão abriu investigação para apurar as circunstâncias da agressão.
Família deixa a cidade por medo de represálias
Após a repercussão do caso, a mãe perdeu o emprego e teve de deixar a cidade com o filho. Advogadas que integram um grupo de apoio — formado por 24 profissionais, em sua maioria brasileiros — afirmam que a família sofreu hostilidades em grupos de mensagens envolvendo mães de alunos da escola.
O coletivo também relatou que o menino já havia sido alvo de bullying por ser brasileiro, preto e gordo, situação que teria sido comunicada à escola sem que medidas efetivas fossem tomadas.
A família está recebendo apoio emergencial enquanto aguarda os desdobramentos da investigação das autoridades portuguesas.



