A estiagem que assola o sul da Amazônia tem deixado sua marca na paisagem de destinos turísticos como Alter do Chão, um distrito de Santarém, no Pará. O rio Tapajós atingiu uma altura de 1,58 metro nesta terça-feira (3), o menor nível desde 2010 – o ano de uma seca considerada a mais drástica desde o século 20 para essa mesma data, quando a medição registrou 1,32 metro, segundo a Defesa Civil do município.
As mudanças provocadas pela seca são visíveis nas principais praias da vila balneária de Alter do Chão, conhecida como o “Caribe da Amazônia”, situada a 37 quilômetros de Santarém.
Na tarde desta segunda-feira (2), a reportagem testemunhou banhistas que caminhavam em uma parte do rio que agora está seca, onde antes se podia nadar.
Embora a estiagem seja esperada nessa época do ano, considerada o verão amazônico, desta vez a baixa no nível do rio está além da média e já está causando dificuldades na região do balneário. Há relatos de falta de água potável em algumas comunidades do entorno, embora Alter do Chão em si não tenha registrado casos desse tipo.
“Em Alter do Chão, os serviços estão normais”, afirma o coordenador da Defesa Civil de Santarém, Darlison Maia.
No canal que liga a vila à Ilha do Amor, onde na estação chuvosa a travessia é feita em catraias (canoas), devido à seca do rio Tapajós, os banhistas agora atravessam a pé.
Outro ponto onde a dimensão da seca é evidente fica próximo ao centro de atendimento ao turista. Lá, as vigas da ponte estão à mostra e um lago secou. “Alguns peixes e quelônios [animais de casco, como tartarugas] morreram”, relata o presidente do Conselho Comunitário de Alter do Chão, Mauro Vasconcelos.
Neste mesmo início do mês, em 2022, o nível do Tapajós estava basicamente o dobro, na marca de 3,80 metros.
Diante desse cenário, o serviço dos catraieiros, que realizam a travessia de passageiros pelo Tapajós em canoas, diminuiu. No entanto, o turismo como um todo, segundo Vasconcelos, não foi impactado.
“Os turistas estão atravessando a pé para a ilha [do Amor], e algumas pessoas que precisam pegar as lanchas estão caminhando até um quilômetro até o local onde o rio é mais profundo e navegável”, explica.
Os meses de outubro, novembro e dezembro de 2023 serão mais secos do que o habitual na região Norte, de acordo com uma nota conjunta do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) e Cenad (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres).
No Pará, a área afetada pela seca aumentou de 48% para 59% do território nos meses de julho e agosto, de acordo com a ANA.
Devido à seca nos rios Tapajós e Amazonas, os comandantes de embarcações precisam redobrar os cuidados na navegação.
A Capitania Fluvial de Santarém recomenda que os comandantes estejam especialmente atentos aos bancos de areia e evitem navegar à noite em trechos críticos. A Marinha também alerta para rajadas de vento durante certos períodos do dia, que podem causar naufrágios.