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Com o peso desmoronando, brasileiros sentem-se milionários na Argentina

Para se ter ideia do tamanho da crise na Argentina, nem é preciso checar índices econômicos. Basta saber que até para brasileiros o país se tornou atraente. Mesmo com o preço das passagens aéreas ainda alto, se não pensar em muitas compras, principalmente de eletrônicos, o turista pode passar dias apreciando cafés e tangos na capital portenha, deslizando pelas encostas de neve, acompanhando o movimento de geleiras, navegando entre ilhotas, fazendo trekking ou viajando de trem pagando barato pelos passeios e ainda comendo muito bem.

A tradicional gangorra que empurra brasileiros para a Argentina e vice-versa, de acordo com os altos e baixos de cada país, está pendendo para o lado de lá. É a vez deles sofrerem com uma economia cada vez mais claudicante e com mudanças de ministros — Silvina Batakis não ficou nem um mês na cadeira e agora é Sergio Massa que comanda um superministério que, além da Economia, unificou Desenvolvimento Produtivo e Agricultura, Pecuária e Pescas. Mas, para o turista daqui, o interessante mesmo é saber que um real vale pelo menos 24 pesos — no câmbio oficial — e um dólar, 132 pesos.

Já parece uma fortuna, mas ainda é possível trocar pelo dobro, enviando pix de reais para a Western Union (que oferece serviços financeiros online) e, já na Argentina, retirar os pesos convertidos nas casas da empresa. A transação é legal, convertendo os valores ao dobro do câmbio oficial, aproximadamente.

Felipe Abílio, que passa uma temporada mochilando naquele país e alimentando o canal GoAbilio no Youtube, está na província de Buenos Aires. A viagem se estende há seis meses justamente pelas condições econômicas. As passagens aéreas “agora estão bem mais caras”, diz, mas ainda assim Airbnb e mercado compensam. Ele até está atrás do visto “nômade”, que prorroga prazos de estadia de 90 dias para mais 90. Esse novo visto é uma “arma” para a Argentina, que na crise tem no turismo sua maior fonte de renda. Segundo o Ministério de Turismo y Deportes, entre janeiro e abril entraram mais de 1,4 milhão de visitantes. Desse total, 35% são brasileiros, seguidos por uruguaios, à frente de americanos. José Roberto Cocco, da Academia Brasileira de Eventos e Turismo, lembra: “O turismo vai para onde o câmbio está melhor e, no momento, é muito favorável aos brasileiros na Argentina. Quem vai para uma semana acaba ficando duas, se puder. O dinheiro rende”.

Apesar do preço de passagens aéreas ainda estar alto no pós-pandemia, neste segundo semestre a Gol vai dobrar os voos para a Argentina, o país mais buscado por seus clientes em relação aos seis primeiros meses de 2022. Além de Buenos Aires e Mendoza, voltará com Córdoba e Rosário em novembro. E além das saídas de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis, Fortaleza entra na lista em agosto. Os voos ida e volta passarão de 26 para 37 em setembro. Em dezembro, também sairão de Natal, Maceió, Recife e Salvador.

O economista Roberto Uebel, professor da ESPM Porto Alegre, optou por uma semana de férias em Buenos Aires há um mês porque aqui no Brasil só a passagem Porto Alegre-Fortaleza para o casal estava R$ 6 mil “e nós ainda pudemos descer de carro para a Argentina”. As cinco diárias que pagou em um hotel quatro estrelas na capital portenha, segundo o professor, equivalia a uma noite em hotel mais simples de Gramado. Pelas ruas, hotéis, lojas e restaurantes lotados de brasileiros, Uebel pôde constatar a valorização do real, que estava valendo 47 pesos pela Western Union, e aproveitar preços de jantares em torno de R$ 40 (pela “tabela McDonald’s”, o hambúrguer estava custando a metade do Brasil). “Até fomos em um balé com ópera no tradicional Teatro Colón com ingresso a R$ 12. O único problema é que na troca de moedas, como os meus R$ 500 valendo 26 mil pesos, as notas não cabem na carteira. Não é muito, mas a gente se sente um milionário”, afirma.

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