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Banco comunitário cria seu próprio e-dinheiro no Pará

Em meio à revolução digital que acelera a criação de fintechs em todo o Brasil, um banco comunitário criado em 2009, o Tupinambá, localizado na Ilha de Mosqueiro, a cerca de 60 km da região metropolitana de Belém (PA) e parte da capital, trabalha para entrar nessa nova categoria de serviços bancários implantando o e-dinheiro, tecnologia digital que permite a troca de recursos usando apenas o smartphone.

Desde o início das atividades, o banco vem beneficiando cerca de 9 mil pessoas que vivem na comunidade rural Baía do Sol.

Ali, os moradores já estão habituados a transferir e a utilizar uma moeda local, o moqueio (equivalente a R$ 1), valorizando o que é produzido no distrito e evitando que o dinheiro saia da comunidade. O desafio do Tupinambá, o único em atividade no Pará, agora é tornar todas essas transações digitais.

A proposta se alinha ao momento de crescimento no setor. Segundo estudo da idwall, empresa de tecnologia e segurança, a estimativa é de que 184 milhões de contas digitais sejam abertas no Brasil até o fim deste ano, o que representa uma alta de 15% na comparação com 2021.

Alguns fatores, no entanto, impedem um avanço mais rápido na criação das moedas digitais, iniciativa que começou a ser aplicada em 2019. Um deles é a capacitação da comunidade, outro a dificuldade de acesso à internet na região.

Embora a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aponte que Mosqueiro tem 100% de cobertura 2G, 3G e 4G na área mapeada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, o sinal é lento e até inexistente em alguns pontos da ilha, de acordo com os moradores.

Só com uma internet de qualidade e a garantia de que todos os moradores tenham um bom smartphone será possível usar a fintech.

No Brasil, cerca de 60 dos 152 bancos comunitários existentes já possuem o e-dinheiro, segundo a Rede Brasileira de Bancos Comunitários. A entidade prepara um material didático com orientações para incentivar novas iniciativas. Mestre em economia e pesquisador em economia solidária, o professor João Claudio Arroyo, da Universidade da Amazônia (Unama), considera como uma inovação positiva a criação da moeda digital no Pará.

“Tanto o dinheiro social físico como o digital dão a oportunidade de que a comunidade beneficiada assuma o controle do seu próprio fluxo monetário social”, afirma.

Além da Baía do Sol, o banco comunitário tem fluxo financeiro em outros três pontos da Ilha de Mosqueiro e em municípios vizinhos, como Colares e Santo Antônio do Tauá. Com o e-dinheiro existe a possibilidade de atender ainda outros lugares do Pará por meio da universalização da moeda.

Arroyo acredita que o arquipélago do Marajó, que reúne 16 municípios do Pará, por exemplo, também poderia ser alcançado pela iniciativa, uma vez que tem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do país e precisa de incentivo a partir das comunidades.

“A iniciativa, no entanto, deve partir das comunidades, pois, caso contrário, não será comunitário. O que se deve trazer ‘de fora’ é a informação e a formação. Sem o desenvolvimento sustentável da Amazônia, o Brasil não terá soberania, e os bancos comunitários já possuem o DNA necessário para a disrupção inovadora que o país precisa e a região merece”, afirma o professor.

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