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Raphael Batista, de 38 anos, encarregado de logística, se assumiu homem trans após seu filho, Gustavo, também transgênero, iniciar acompanhamento no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP). “Agora sou o Raphael, pai do Gustavinho”, declarou ao g1.
Os dois nasceram com características biológicas femininas, mas se identificam com o gênero masculino. O pai realiza sua transição no Hospital Municipal do Campo Limpo, enquanto Gustavo, de 10 anos, é acompanhado pelo Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (Amtigos) e pela Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Instituto da Criança do HC.
O HC é uma unidade da rede pública que segue protocolos do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) para atendimento de pessoas trans. Segundo especialistas, a transexualidade não é uma doença, mas sim uma identidade de gênero que pode ou não corresponder ao sexo biológico.
CPI investigou atendimento a crianças trans no HC
Acompanhamentos como o de Gustavo foram alvo de investigação na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Em 2023, deputados estaduais instalaram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar se o atendimento a menores de 18 anos no HC seguia a legislação vigente. O relatório final recomendou a suspensão de novos atendimentos, alegando possíveis irregularidades.
No entanto, o Ministério Público Federal (MPF) arquivou o caso após concluir que o programa do HC segue todas as normas médicas e legais. Com isso, os atendimentos continuam normalmente, incluindo a possibilidade de bloqueadores hormonais a partir da puberdade e hormonização cruzada a partir dos 16 anos. Cirurgias só podem ser realizadas na fase adulta.
Dia da Visibilidade Trans e apoio familiar
O relato de Raphael e Gustavo ganha destaque na semana do Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro. Ambos afirmam que suas decisões de transição não foram influenciadas um pelo outro, mas que o apoio mútuo fortaleceu o processo.
“Não foi difícil chamar minha mãe de pai”, disse Gustavo. Já Raphael destacou que o filho lhe deu coragem para enfrentar a transição. “Eu já tive muitos problemas com a transição do meu filho por ter sido uma mulher lésbica. Então, imagina eu dizer que estava transicionando também…”
Além de Gustavo, Raphael tem outros dois filhos: uma adolescente de 16 anos, que se identifica como não binária, e um garoto de 13 anos, cisgênero. Toda a família recebe acompanhamento de uma equipe multidisciplinar durante o processo de transição.