O Bom Dia Pará, programa da TV Liberal, afiliada da Globo em Belém, causou polêmica ao entrevistar um homem fazendo “blackface” durante a cobertura da festividade de São Benedito, em Bragança, região Nordeste do Pará. O devoto estava com o corpo pintado, alegando que era uma promessa a São Benedito. A prática, contudo, levanta questões sobre sua origem e significado histórico.
O repórter Noriel Magalhães, que já havia sido alvo de críticas por uma reportagem preconceituosa sobre HIV em outubro, mencionou que a cor do devoto estava pintada de preto. A presença desse tipo de representação, conhecida como “blackface”, remete a uma prática histórica com raízes profundas em estereótipos raciais negativos.
Origem do “Blackface” e sua Conotação Histórica:
A prática do “blackface” teve início nos Estados Unidos por volta de 1830, período de transição entre escravidão e abolição. Era comum em espetáculos humorísticos, nos quais atores brancos pintavam seus rostos de preto para retratar de maneira estereotipada comportamentos associados aos negros.
O professor e ativista antirracista Juarez Xavier destaca que a prática não é apenas uma representação artística, mas sim uma ferramenta de ridicularização e controle social. Através de estereótipos negativos, a população negra era retratada como incapaz de exercer seus direitos democráticos de liberdade e cidadania.
No contexto brasileiro, a prática se popularizou durante o carnaval, com pessoas brancas se fantasiando de forma desrespeitosa, como a “Nega Maluca” e o “Índio”, sob o argumento de homenagem.
O uso do “blackface” justificava-se em uma época em que negros eram proibidos de subir nos palcos e atuar devido à cor da pele. Mesmo após a abolição, a prática persistiu em programas de TV e teatro, perpetuando estereótipos racistas.
O professor Juarez ressalta que, no cerne do problema, há a construção de mecanismos para justificar o racismo, sendo o “blackface” uma artimanha que busca atuar na representação negativa da população negra.
Até o momento a TV Liberal não se pronunciou.
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