
Fundada por Machado de Assis e símbolo da intelectualidade brasileira, a Academia Brasileira de Letras (ABL) vem sendo criticada por, supostamente, ter se tornado um feudo do Grupo Globo. A eleição na última semana da jornalista Miriam Leitão, com 20 votos, superando os 14 obtidos por Cristovam Buarque, reforçou a percepção de que a Casa dos Imortais estaria cada vez mais sob a influência da chamada “Vênus Platinada”.
O atual presidente da ABL, Merval Pereira, é colunista do jornal O Globo e comentarista da GloboNews. Em 1993, Roberto Marinho, fundador do império Globo, também foi eleito para a instituição. Agora, especula-se que nomes como Pedro Bial, Fernando Gabeira e Ancelmo Gois, todos com passagens pela emissora, possam ser os próximos a vestir o tradicional fardão.
A situação é vista com ceticismo e até ironia por observadores e admiradores da ABL. Figuras históricas como Rui Barbosa, Olavo Bilac e Marcos Vilaça — ícones da erudição e do pensamento crítico brasileiro — são lembradas em tom de humor como “sorrindo amarelo” no além, diante do atual perfil da entidade.
A cadeira na ABL não garante salário fixo, mas oferece benefícios como jetons por presença nas reuniões, plano de saúde e, talvez o mais simbólico, o direito a uma vaga no mausoléu da instituição. Apesar da derrota, Cristovam Buarque mantém esperanças de, em breve, dividir espaço com nomes como José Sarney, Ruy Castro e Ignácio Loyola Brandão. A vaga no templo da imortalidade literária ainda exerce fascínio sobre muitos — entre vaidades e ideais de glória eterna.



