O açaí, símbolo da cultura alimentar paraense e uma das principais fontes nutricionais da região, passou, neste semestre, a compor o cardápio da merenda escolar da rede pública estadual de ensino, ao lado de outros frutos típicos da Amazônia, como o cupuaçu. O estado é responsável pela produção de mais de 93% do fruto do Brasil.
Além de nutritiva, a medida fortalece a cultura alimentar regional, como explica a nutricionista Dyanara Oliveira, vice-presidenta da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).
“Apresentar e oferecer alimentação adequada e saudável faz com que se forme hábito alimentar, que valorize a cultura alimentar. Se é hábito do estado do Pará os alunos consumirem peixe, farinha e açaí, a partir do momento que eu tenho a oferta dessa alimentação na escola, eu vou ter uma aceitação grande também, porque faz parte do hábito alimentar”, explica Dyanara.
A iniciativa foi recebida com otimismo, considerando a possibilidade de fortalecer ainda aspectos culturais e econômicos na região.
“Vai ter um fortalecimento também da cadeia produtiva, da agricultura familiar, da agroecologia. Esses alunos também são agentes multiplicadores desses conhecimentos, então eles vão levar informação do que consomem na escola para os pais e responsáveis, muitas vezes pedindo açaí, que provou jambu com arroz e achou gostoso”, comenta Dyanara.
Mas apesar da conquista, produtores da agricultura familiar apontam os desafios de acessar as políticas públicas e fornecer alimentos para a merenda escolar, em um espaço cada vez mais ocupado por grandes empresas. A agroextrativista Daniela Araújo, do município paraense de Abaetetuba, que está entre os municípios que lideram produção de açaí no Brasil, passa por essa situação.
“A gente ainda não está conseguindo acessar essas políticas públicas, mas por quê? Por falta de regularização fundiária, pois hoje o pequeno agricultor precisa dessa seguridade, que não existe ainda em muitos territórios. Estamos lutando, mas não é fácil conseguir. A questão das mudanças climáticas é algo que está afetando diretamente os territórios, a gente está produzindo, está plantando, mas tem coisas que estão secando, que não estão vingando, então precisamos de um plano de emergência, um plano B, algo que possa dar seguridade para que a gente possa ter esse incentivo, que esse pequeno agricultor possa produzir”, explica Daniela.
Em municípios como Abaetetuba, as famílias vivem rodeadas por palmeiras de açaí nos quintais, com alimentos livres de veneno e que já compõem naturalmente a cultura alimentar desde a infância. Por isso, reforçam não só a importância da inserção dos alimentos na merenda escolar, mas também que as pessoas possam refletir sobre de onde vem cada alimento que vai à mesa.
Segundo Daniela, “não é só beneficiar o pequeno agricultor, mas também dar qualidade na merenda escolar para as crianças, pois a gente sabe que o produto produzido, dentro nos nossos quintais, não tem veneno. Os produtos de fora não sabemos a procedência, então uma das importâncias de a gente conseguir que esses alimentos que a gente produz aqui nos nossos quintais chegue na escola, é que de fato ele é natural, a gente produziu com todo o carinho e cuidado”.
Fonte: Brasil de fato