A Vigilância Sanitária realizou, neste domingo (7), uma vistoria em uma unidade do Grupo Mais Barato, localizada no bairro de Nazaré, em Belém. A ação ocorreu no mesmo dia em que veio a público o relato de um consumidor que afirma ter sido contaminado por metanol após ingerir whisky comprado no local. A empresa confirmou a visita da fiscalização.
O engenheiro Flávio Acatauassu, de 63 anos, relatou que adquiriu a bebida em novembro e procurou atendimento médico após sentir-se mal. Exames feitos em laboratório privado identificaram metanol no organismo.
Em nota enviada à reportagem, o supermercado afirmou que a inspeção integra “protocolos padrões do setor alimentício”. Segundo o grupo, as bebidas relacionadas ao caso haviam sido retiradas das prateleiras antes da vistoria e estavam disponíveis para avaliação dos fiscais. A empresa declarou que segue regulamentações sanitárias e mantém diálogo com as autoridades.
Mais cedo, o Grupo Mais Barato divulgou posicionamento público afirmando que adotou medidas internas após ser informado do caso. A empresa argumentou que considera “incomum” que a garrafa consumida não tenha sido entregue para análise técnica. Também informou que produtos do mesmo lote foram recolhidos e encaminhados para rastreamento junto à Diageo, fabricante do whisky.
Órgãos públicos iniciam levantamentos
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que o exame que apontou metanol no organismo do consumidor foi feito de forma particular e que, até agora, não recebeu notificação oficial sobre o caso. O órgão reforçou que, conforme o último boletim epidemiológico disponível, de 9 de outubro de 2025, não havia registros confirmados de intoxicação por metanol no Pará.
A Polícia Civil declarou que a Delegacia do Consumidor (Decon) ainda não recebeu o registro formal, mas mesmo assim intimou o engenheiro para prestar depoimento.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi procurada, mas não respondeu até o fechamento da matéria.
A Unimed Belém confirmou que Flávio buscou atendimento no Hospital Unimed Prime. A instituição declarou que o exame específico para metanol não foi solicitado no primeiro momento porque esse tipo de análise é indicado apenas quando o quadro clínico se enquadra nos critérios previstos pela Nota Técnica nº 01/2025 da Sespa. Informou ainda que exames dessa natureza são conduzidos por laboratórios externos vinculados ao Lacen ou ao Ciatox.
A operadora abriu uma apuração interna sobre o atendimento e reiterou orientações ao público: evitar bebidas de procedência desconhecida, buscar atendimento médico diante de sintomas compatíveis e comunicar suspeitas às autoridades sanitárias.
Depoimento e documentos
A Polícia Civil afirmou que Flávio será ouvido nos próximos dias. O engenheiro diz possuir documentos, exames, protocolos de atendimento e uma garrafa lacrada do mesmo lote do produto que consumiu. O material será entregue às autoridades.
Segundo o relato, o teste que apontou metanol foi realizado somente 72 horas após o primeiro atendimento, em laboratório particular, com contraprova.
Chegada do antídoto ao Pará
O Ministério da Saúde enviou ao Pará, na sexta-feira (10), o primeiro lote de fomepizol, medicamento utilizado no tratamento de intoxicação por metanol. A aquisição nacional foi feita em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
A Sespa recebeu as ampolas e informou que o estado segue sem registros oficiais de intoxicação, mas mantém vigilância constante. O medicamento será armazenado nas Centrais Estaduais de Abastecimento Farmacêutico e disponibilizado às unidades de saúde conforme necessidade clínica.
Segundo a secretaria, o fomepizol deve ser administrado em ambiente hospitalar, com doses aplicadas em intervalos definidos por protocolos de segurança.
Como age o fomepizol
O metanol pode ser convertido pelo organismo em compostos tóxicos associados a danos graves, como perda de visão e falência de órgãos. O fomepizol bloqueia essa conversão ao inibir a enzima responsável pelo processo, reduzindo a formação dessas substâncias.
A Secretaria de Saúde afirma que a disponibilização do medicamento é parte da estratégia de preparação para emergências envolvendo bebidas adulteradas ou outros eventos que possam gerar intoxicação química.
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