OPINIÃO

Veto de Helder que barra a criação do feriado da consciência negra é mais uma evidência que governador joga com a Direita e Esquerda

Hoje o governador Helder Barbalho barrou a criação do feriado da consciência negra no Pará. Na justificativa publicada no Diário Oficial do estado, o governador diz que “não pode o Estado-Membro instituir feriados civis, que, por gerar consequências nas relações empregatícias e salariais, invade competência legislativa privativa da União, para legislar sobre direito civil e direito do trabalho”, que se refere a Lei Federal nº 9.093, de 12 de setembro de 1995.

Uma pauta com grande apelo, em um momento em que o mundo discute o racismo, Helder poderia usar isso politicamente em favor de sua imagem. Então, por que não fez?

O governador vive um desgaste com a Direita em função dos atritos criados com o presidente Bolsonaro durante essa pandemia. O ponto máximo foi o rompimento com o deputado federal Éder Mauro, que de apoiador, passou a ser crítico ferrenho de Helder.

Em 2018 Helder conseguiu construir uma rede de apoiadores agregando a Direita Conservadora (evangélica e militar), a Esquerda revolucionária petista e a esquerda progressista do PSOL (embora este mais velado).

De um lado estava Éder Mauro, usando a imagem do presidente Bolsonaro, defendendo a família tradicional, o cidadão do bem, os valores judaico-cristãos e se posicionado contra o politicamente correto. Do outro, Ursula Vidal, citando Paulo Freire, gritando Lula Livre, falando em defender “a democracia”, as minorias e contra a opressão do “neoliberalismo”. Os pontos divergentes, ali, lado a lado, no mesmo governo. De pastores da Assembleia de Deus a progressistas como Igor Normando, do apoio velado de Edmilson ao beijo escancarado do PT.

Helder foi criando um jogo dúbio para agradar os dois lados do espectro, não só agregando nomes e instituições, como também com condutas políticas feitas sob medidas para circular pelas redes sociais. Um exemplo disso são os vídeos de detentos de Americano em organização e disciplina militar cantando o hino nacional brasileiro. A Direita aplaudiu.

Por outro lado, quando resolveu partir para o conflito com Bolsonaro no início da pandemia, com frases de efeitos antagônicas ao discurso presidencial, com ideal de jogar para a plateia, ganhando o apelido de “Rei do Norte” dado pela galera progressista do Twitter, a Esquerda aplaudiu.

A pandemia desgastou a relação de Helder Barbalho com a Direita, embora ainda tenha apoio de líderes evangélicos e do setor produtivo. Agora que ele vê que a retórica de Bolsonaro ganha força com aumento de sua popularidade, Helder tenta novamente flertar com a Direita Bolsonarista, uma tentativa de reaproximação foi o convite ao Bolsonaro para inaugurar a praça do Parque Futuro. No entanto, fora da cerimônia formal, Helder foi ignorado e isolado.

O veto da criação do feriado da consciência negra no Pará, é mais uma evidência dessa tentativa de reaproximação, Helder ignora os movimentos sociais dos partidos de Esquerda que estão presentes no seu governo, e faz uma nova tentativa de aceno à Direita Bolsonarista.

Em jogo? Muitas coisas, repasse de recursos, apoio do governo federal para realização de obras no Pará, a cessão do porto de Belém e do Aeroclube ao governo do Pará e, claro, surfar no aumento de popularidade de Bolsonaro. Lula já não tem o mesmo apelo.

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